São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Miranda fez fortuna graças a incentivos

XICO SÁ; LÚCIO VAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

LÚCIO VAZ
O grupo de empresas do senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), relator do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), é beneficiado todo ano com isenção de impostos que chega a R$ 40 milhões.
Com patrimônio avaliado em R$ 500 milhões, o senador fez sua fortuna nos últimos 22 dos seus 49 anos de vida graças a esse tipo de benefício. Descobriu na "indústria da isenção" do governo federal uma mina de negócios lucrativos.
Para chegar a sua situação atual, que faz inveja a qualquer "self-made man", Miranda montou uma rede de lobby e amizades, que vai da escolha de um superintendente da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) como padrinho de casamento a aliança política com o hoje presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP).
Com isso, o senador de R$ 500 milhões encontrou facilidades para aprovar projetos na Suframa, um paraíso fiscal que isenta de impostos as empresas que se instalam lá.
Com a papelada de projetos aprovados em mãos, Miranda escolheu dois caminhos:
1) Uma parte vendia para empresários que pretendiam se beneficiar da isenção fiscal e não teriam influência política suficiente para aprovar em curto tempo os seus projetos;
2) Com outra cota de projetos, montou o seu grupo de 15 empresas, cuja holding é a Humana S/A.
O primeiro passo da saga do senador começa quando escolheu, há 22 anos, o então superintendente da Suframa, Aloísio Campelo, como padrinho do seu casamento.
Miranda descobriu assim a possibilidade de aprovar projetos e obter cotas de importação.
Chegou a Manaus em 73, como advogado de uma firma chamada Gentek S/A. A sua especialidade já era ligada ao que seria o seu futuro como empresário: resolver problemas tributários. "Cheguei lá e descobri que tinha tudo para fazer", lembra.
Hoje, embora seja senador pelo Amazonas, resultado de uma eleição como suplente, só vai ao Estado em último caso.
Quando deixa Brasília, o seu destino é quase sempre a luxuosa casa de R$ 3,5 milhões que comprou recentemente no Jardim Europa (região central de São Paulo).
Nesta cidade, o seu principal hobby é o encontro das sextas-feiras com amigos que formam a "confraria do vinho", na qual costuma brindar com garrafas que custam em média R$ 1 mil. "Dinheiro é para gastar mesmo", diz.
Quase tudo que Miranda possui se deve aos negócios com a Suframa. Nunca abriu mão da influência na indicação de diretores da autarquia e na condução da sua política de incentivos fiscais.
"Era um setor intocável para ele", disse à Folha a ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello. Mesmo com todo o poder que mantinha no governo Collor (90-92), ela não conseguiu frear os projetos de isenção fiscal.
Em março de 1991, Zélia determinou que a Suframa não deveria aprovar novos projetos para a zona franca. Trabalho perdido. O senador, com a ajuda do seu irmão Egberto Baptista, então titular da Secretaria de Desenvolvimento Regional, frustrou a ministra.
Na época, Miranda conseguiu aprovar projeto para uma grande montadora de automóveis, a São Jerônimo. O episódio colaborou para a queda de Zélia.
Além das conquistas fiscais, o senador obteve também outros benefícios com as suas amizades políticas. Ganhou a concessão da Rádio e Televisão Rio Negro, de Manaus, cinco anos depois vendida para empresários da região.
Gilberto Miranda se define como um homem de sorte. A sua primeira vitória contra o azar, segundo narra, foi quando tinha 14 anos e ainda era um menino pobre de São José do Rio Preto (SP).
Um ônibus em que viajava para Barretos (SP) desandou e mergulhou num rio. Morreram 59 pessoas. Outras três foram jogadas para fora do veículo e se salvaram. Entra elas estava Miranda.
Aos 20 anos, era professor de educação física no Ciem (Centro Integrado de Ensino Médio), em Brasília. Foi professor de educação física de Fernando Collor, Luiz Estevão e Paulo Octávio.
Com 30 anos, já estava fechando negócios em Manaus. Hoje fatura R$ 600 milhões ao ano.

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