São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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50% dos soropositivos do mundo são jovens

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma triste estatística: 50% dos soropositivos no mundo têm entre 15 e 24 anos. O dado foi divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas), dia 26 de novembro, quatro dias antes do Dia Internacional de Luta Contra a Aids, na última sexta.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 3,6% dos infectados são adolescentes ou crianças.
O percentual -que cresce a cada ano- não inclui todos os que sofrem com a doença. Não é fácil -e já são muitos os teens que passam por isso- descobrir que um de seus melhores amigos têm uma doença incurável.
Marcelo, 23, (os nomes são fictícios), soube há um ano que o seu melhor amigo, Rodrigo, 17, era portador.
Foi uma das primeiras pessoas a saber. Rodrigo preferiu contar primeiro aos amigos.
"Eu fiquei muito triste. É um choque muito grande saber que o seu amigo tem uma doença dessas. Não conseguia nem comer nem dormir direito", conta Marcelo.
Na casa de Rodrigo, só sua mãe sabe. "Ela não toca no assunto. Convive comigo como se nada acontecesse", diz. Para os outros, ele disse que tinha câncer. "Preferi falar isso porque o câncer é uma doença que mata mais devagar."
A Aids, por mais que eles tentem esquecê-la, faz parte do dia-a-dia da turma. "Às vezes a gente está brincando e o Rodrigo pára e fica pensativo. Como sei que ele está pensando na doença, eu o deixo quieto", diz Marcelo.
A professora Mara Santos, 18, também aprendeu a conviver com a Aids. Tem um amigo soropositivo e trabalha como voluntária com crianças contaminadas.
Mara e Rodrigo estiveram no ato pela prevenção da Aids, na sexta-feira, em São Paulo.
"Vi uma moça deixando seu filho na rua porque ele tinha Aids. A partir disso, percebi que precisava fazer alguma coisa", diz.
Muitos adolescentes estão percebendo que é preciso agir. Tanto que a Apta (Associação de Prevenção e Tratamento da Aids), criou um grupo só para eles, o Aptateen.
Eles realizaram também uma pesquisa com com 1.032 alunos de escolas públicas de São Paulo para saber se eles estão informados sobre a doença.
A pesquisa concluiu que 22,19% dos estudantes estão desinformados, 43.02% estão parcialmente informados e 31,69% bem informados. Mas o resultado mais preocupante da pesquisa é outro: 30,14% dos entrevistados afirmam que não mudaram o seu comportamento por causa da Aids, ou seja, ainda não aprenderam a usar a camisinha e podem engrossar as estatísticas.

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