São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Um dia na rua dos MAMONAS

RONALDO SOARES
DA REPORTAGEM LOCAL

Mamonas Assassinas não é só a principal banda do estilo "débil-metal" -o casamento do besteirol com o rock pesado. Trata-se também de um fenômeno capaz de operar verdadeiros milagres. Como, por exemplo, transformar em ponto turístico uma pacata rua de Guarulhos (20km a norte de São Paulo).
Até alguns meses atrás, a rua era só mais um endereço no mapa do bairro Parque Continental 1. Depois que os Mamonas "estouraram", o lugar virou "a rua dos Mamonas Assassinas".
O local em questão é a rua onde moram os irmãos Sérgio e Samuel Reoli, respectivamente baterista e baixista da banda. Na garagem, os Mamonas arriscaram seus primeiros acordes, há seis anos, quando o grupo se chamava Utopia e sonhava ser uma "banda séria".
Hoje, a "rua dos Mamonas" recebe diariamente a visita de dezenas de fãs da banda -a maioria crianças e meninas adolescentes.
A cena é sempre a mesma: os fãs se aglomeram em frente à casa dos irmãos Reoli e se põem a tocar a campainha e gritar pelos rapazes. Dificilmente a gritaria surte efeito, já que a agenda de shows do grupo permite que os músicos passem apenas um ou dois dias por semana em casa.
Na última quinta-feira, a reportagem da Folha foi ao local e descobriu Sérgio e Samuel numa atividade cada vez mais rara à rotina deles: ver TV com o pai.
Ao atenderem a reportagem, foram descobertos pelos fãs, que passaram a pedir, aos berros, a presença dos dois no portão. Quinze minutos depois de uma maratona de autógrafos, Sérgio e Samuel se viram obrigados a entrar em um carro e sair de casa.
O sucesso da banda trouxe fama também para a vizinhança. É o que diz a estudante Luciana Renostro, 15, vizinha dos irmãos Reoli. "Quando digo que moro ao lado dos Mamonas, minhas colegas ficam em cima de mim, pedindo para eu tirar foto deles."
A fama da rua se reflete também em cifras. O comerciante Nilo do Nascimento, 62, que vende doces, salgadinhos e bebidas numa barraquinha em frente à casa dos Reoli, admite que se beneficia dos vizinhos ilustres.
"O movimento de vendas aumenta quando o pessoal vem aqui procurar os Mamonas", diz.
Também há quem se orgulhe de ter sido amigo dos Mamonas antes de o grupo fazer sucesso. É o caso da estudante Fabíola Ferreira, 18, uma das vizinhas que ajudaram a banda quando Dinho, Sérgio, Bento, Samuel e Júlio ainda eram os anônimos integrantes do Utopia.
"Quando o Utopia lançou um disco, eles imploraram para todos os amigos comprarem para ajudar a banda. Na época, eu até disse que não tinha dinheiro, mas eles falaram para eu pagar no mês seguinte."
Mas tem gente na vizinhança que nunca digeriu os Mamonas. Segundo Sérgio, a mulher que mora nos fundos da casa dele "não suportava o barulho que o grupo fazia nos ensaios".
A mulher, que não quis se identificar, nem se deixou fotografar, diz não ter nada contra os Mamonas, mas não disfarça a antipatia com os rapazes: "Eles são vizinhos ótimos, mas são eles lá e eu aqui, eles têm a vida deles e eu tenho a minha".
Embora o grupo não revele a fonte de inspiração da música "Pelados em Santos" ("Minha brasília amarela tá de portas abertas/Pra mode a gente se amar/Pelados em Santos"), o motivo da inimizade com os Mamonas pode estar na garagem da vizinha: a mulher é dona de uma brasília amarela.

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mais sobre Mamonas Assassinas à pág. 5-1

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