São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Torta na cara não casa com anjo sexual

MARCELO PAIVA

Angélica é virgem. É? Disse, aqui na Folha, que se disser que sim, seu namorado fica malvisto, se disser que não, seu público fica mal. Prefere não dizer. Todo o direito. Ela está linda, olhos que brilham, viva, que corpo... Mas o tabu da virgindade é seu, não do público.
Avisem lá: Angélica, virgindade não é mais tabu, nem aqui nem em Iguaçu! Seu público, ah, o público, aquela massa nebulosa que as pesquisas tentam, mas passam raspando, que pensamos ser uniforme. Seu público é tudo.
Eu sou seu público, apesar de me incomodar com alguns quadros do seu programa, principalmente aquele em que um adolescente é levado a jogar tortas na cara do outro. Violência desmedida contra acertar ou errar uma questão enciclopédica. Não sei o que tem rolado nos lares brasileiros, mas se o exemplo pegou, como quase tudo o que a TV sugere, tem irmão jogando torta em irmão a torto e direito e pais perguntando: "Onde está o controle remoto?", e se a resposta for errada, torta na cara.
A platéia, pelo jeito, adora. Não acho engraçado ver um garoto de quinze anos ser agredido por um companheiro rival por não saber qual é a capital da Zâmbia. Me lembra o treinamento de um cachorro que se fizer coisa errada no lugar errado, tem esfregado seu nariz no produto do erro. No mais, este quadro não combina com a imagem anjo erótico da Angélica.
Minha sugestão: se acertar a pergunta, recebe um beijo dela. Diminui-se a luz do estúdio, gelo seco, um último romântico no alto-falante e Angélica aos agarros com o estudante. Se errar, um aperto de mão e bau, bau. Se acertar todas, o direito de examinar a pinta na perna. Que tal?

Nos últimos tempos, uma série de especialistas pesquisam e lançam livros sobre o comportamento feminino. Nas universidades, foram criados núcleos de estudos da mulher. E dá-lhe trabalhos sobre virgindade, menstruação, menopausa etc. E o homem?
Não se estudam os tabus masculinos, as dificuldades do homem moderno, o esforço de se quebrar o conceito genético da "carne fraca", o autocontrole de tesões reflexivos, as humilhações de uma primeira vez e a exigência diária da potência sexual.
Homem também sofre. Tem sua masculinidade posta em xeque rotineiramente, e ai de quem fraquejar. Vamos lá, rapaziada, queremos nossos núcleos de estudo.

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