São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Nosso compromisso

JOÃO ROBERTO MARINHO

Se fosse necessário usar o menor número possível de palavras para dizer como vejo a imprensa brasileira hoje, eu diria que vamos como vai o Brasil -o que é, além de compreensível, bastante alentador. A cinco anos do fim do século, nosso país pode se orgulhar de ter concluído a consolidação de suas instituições políticas e de estar construindo uma economia moderna, competitiva. A situação da grande imprensa é análoga.
Os indicadores de crescimento são visíveis e refletem um esforço permanente de modernização. Isso envolve principalmente o investimento no material humano, criando oportunidades de evolução profissional e pessoal.
Só para ilustrar, lembro que nos últimos três anos o nosso PIB evoluiu de US$ 456 bilhões para US$ 530 bilhões e deve chegar em 95 a US$ 562,33 bilhões. No mesmo período o investimento publicitário em mídia cresceu de US$ 2,3 bilhões para US$ 3,4 bilhões, com estimativa para US$ 4,3 bilhões em 95.
Devemos incluir, entre os fatores responsáveis por esse desempenho, o uso intensivo de técnicas de marketing, beneficiando intensamente o relacionamento entre veículos, leitores e anunciantes, e a utilização do que existe de mais atual em conceitos de administração e gerenciamento. Trata-se de setor a que temos nos dedicado no "Globo" com especial atenção e até, posso dizer, de forma pioneira. É exemplo disso o projeto do Painel do Leitor, implantado este ano, que permite um acompanhamento diário das reações de nosso público leitor a cada edição do jornal.
Faz parte do processo evolutivo, e aqui também lembro a experiência específica do "Globo", uma revisão de conceitos. Simplificando, ela significa, seguindo tendência cada vez mais forte na imprensa mundial, abandonar a definição de uma empresa jornalística como aquela que simplesmente edita um jornal ou uma revista e a adoção da visão mais abrangente -e repleta de desafios fascinantes-, segundo a qual somos uma empresa dedicada à produção e veiculação de informação por todos os meios disponíveis: jornal, serviço noticioso, boletins especializados, vídeo e audiotextos, bancos de dados etc.
O mundo das comunicações tem evoluído em estonteante velocidade e o nosso maior problema talvez seja acompanhar essa evolução e aproveitar dela -sem ficarmos tontos.
Quero acentuar com isso que a pressa é má conselheira. Muitas das transformações que vemos são inevitáveis, outras não passam de fumaça sem fogo. E nem todas são bem-vindas. De qualquer forma, a empresa de informação que não tiver incorporado a reflexão sobre o futuro ao planejamento de médio prazo está mexendo os pés sem sair do lugar.
Simultaneamente ao processo de amadurecimento das instituições políticas, e não por acaso, a imprensa brasileira tem amadurecido também sua filosofia como serviço público, como necessário elo entre o Estado e a sociedade e entre os diferentes setores dessa sociedade. De fato, quanto mais uma atividade tem potencial para afetar, para bem ou para mal, indivíduos e grupos dentro da comunidade, mais é complexo o arcabouço ético que deve guiá-la.
Os meios de comunicação obedecem às leis do país e seguem os padrões morais de conduta determinados pela sociedade a que pertencem -mas isso não basta. Temos de estabelecer normas próprias de comportamento à luz de nossa experiência e orientados por nossas convicções. Essas nos obrigam à preocupação permanente com a isenção no processamento da informação.
O compromisso fundamental é com o leitor. Cabe-nos descobrir o que interessa ao público e atender a essa demanda. Mas é preciso ter em mente que o interesse do público nem sempre corresponde exatamente ao interesse público -e quando o conflito se declara, é nosso dever fazer que o interesse público prevaleça. O público pode mostrar curiosidade mórbida por certos assuntos, mas é desvio ético cortejar essa curiosidade com tratamento sensacionalista.
É necessário enfrentar permanentemente os conflitos, reais ou supostos, entre interesse público e direito à privacidade. É questão extremamente complexa, que nos expõe diariamente ao confronto entre o direito de informar e o dever de fazê-lo com responsabilidade.
A imprensa brasileira está atingindo a maturidade como instituição nacional, na medida em que incorpora aos seus procedimentos essas preocupações. É assim que jornais conquistam o respeito das comunidades a que servem e, no que chamaríamos de um círculo virtuoso, conquistam a independência econômica que realimenta sua credibilidade.

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