São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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O impacto da tecnologia em um mercado em expansão

JAYME SIROTSKY

O corriqueiro adágio de que o pior cego é o que não quer ver se aplica com perfeição na análise sobre o atual estágio da mídia escrita e a sua projeção para o futuro: desconhecer ou tentar ignorar os incríveis avanços tecnológicos de nossos dias, e supor que eles não terão reflexos profundos no futuro dos jornais, é simplesmente impossível.
Mas é preciso, além de querer ver, juntar a visão até aqui facetada em vários ângulos para se chegar a algumas certezas. O jornal, mais ou menos como conhecemos hoje, estará conosco ainda por muitos anos. Já temos consciência de que alguns dos avanços vão determinar novos conceitos de produção e distribuição, tema tão debatido nos encontros de imprensa. E depois?
Foi só em outubro que os brasileiros puderam assinar o acesso comercial à Internet, infovia que possui 40 milhões de usuários em todo o mundo, que cresce numa proporção geométrica e pela qual se podem consultar milhares de bancos de dados e fontes de informação. Entre as quais, páginas ou cadernos de muitos jornais, inclusive brasileiros.
Mas nela ainda não se encontram publicações de muitos países simplesmente porque a realidade tecnológica tem de ser avaliada de acordo com as circunstâncias de cada região do mundo.
A velocidade na absorção de novas tecnologias, contudo, depende da geoeconomia. Os países industrializados terão natural prioridade sobre as nações da África, do Oriente Médio ou da América Latina e, neste nosso continente, caracterizado por disparidades enormes de renda e de educação, com certeza alguns centros terão um desenvolvimento maior e mais célere nessa área do que a maioria dos outros.
No Brasil, os nossos jornais têm evoluído muito com a informatização, que mudou profundamente os procedimentos de produção, auxiliando no crescimento de suas tiragens, em especial nestes últimos anos. E esse é um dos pontos a serem sinalizados. Pesquisas mostram que também nisso as realidades são diferenciadas. Nos países onde o jornal é um meio de saturação maior, como nos EUA e na Europa, tem havido uma queda de circulação. Nos demais mercados, o fenômeno é inverso.
Cresce significativamente a circulação na América, no leste Europeu e na Ásia, compensando as quedas nos outros mercados, determinando inclusive aumento importante na demanda de papel jornal em escala mundial.
Se é previsível antever novos processos de fazer jornal -em várias redações os editores já são operadores de novos meios, como a paginadora eletrônica, e nisso agregam qualidade ao produto, por saberem tanto buscar a informação como fazê-la acessível aos leitores-, também é certo assegurar que o futuro dos jornais depende, cada vez mais, da sua própria qualidade. E essa virtude, por sua vez, depende da constante qualificação dos profissionais de imprensa.
Outro referencial significativo das boas possibilidades do jornal, num prazo relativamente longo, é a atitude dos empresários de mídia impressa que vêm investindo maciçamente na montagem de novos parques gráficos, digitalização dos processos de produção existentes e, sobretudo, a preocupação constante com seus recursos humanos.
É nisso que deverá estar o diferencial para as empresas de informação, produzindo melhor qualidade e possibilitando a convivência dos meios tradicionais com as novas fontes eletrônicas.
Ler jornal é um privilégio que, por bom tempo, continuará sendo descoberto por milhões de pessoas em todo o mundo, na medida em que suas respectivas nações evoluírem econômica, social e culturalmente.

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