São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Distribuir, mas educar

Nova apreensão de seringas descartáveis em Santos, que seriam oferecidas pela prefeitura local aos usuários de drogas injetáveis na cidade, mostra que ainda não existe, tanto na lei quanto na opinião pública, suficiente clareza quanto à validade desse tipo de ação preventiva de combate à Aids, já adotada em alguns países europeus.
A par das diferenças geográficas, culturais e econômicas que em geral contribuem consideravelmente para que determinada iniciativa na área da saúde pública não alcance os mesmos resultados em diferentes países, o fator educativo é hoje decisivo para que medidas tão ousadas, como a distribuição de seringas, não se tornem inoperantes.
É pouco provável que um usuário de drogas, normalmente transtornado pelos efeitos que o vício produz em sua saúde mental, tenha o desejado poder de tornar suas práticas menos prejudiciais, a menos que esteja submetido a algum tipo de acompanhamento terapêutico e educativo que o induza a livrar-se do vício.
Além disso, no contexto cultural brasileiro, tradicionalmente afeito à deletéria sofisticação das práticas ilícitas, nada garante que as seringas não venham a ser, cedo ou tarde, objeto de malfadadas intermediações com as quais alguns poucos sempre saem ganhando.
Embora aceitável isoladamente, a distribuição de seringas somente se justificaria num contexto de ampla reeducação do usuário de drogas, que o faça constatar mais diretamente a natureza e as consequências perniciosas do seu vício.

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