São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995 |
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M.
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO -Os entendidos garantem que, com a idade, a gente perde a capacidade de admirar. Em criança, admirava alucinadamente meu time: Arnaldo Guinle comprou toda a seleção paulista para o Fluminense e eu me emocionava com Batatais, Romeu, Hércules -dias de glória. Também admirei, ao longo do tempo, as pernas de Cid Charisse e o corpo de uma vedete da praça Tiradentes que tinha o estranho nome de La Rana. Coisas.Com o passar do tempo, deixei de admirar até mesmo as pedras de Veneza e os azuis de Ticiano. Ando relendo o Proust mais por obrigação do que por prazer. Novamente: coisas. Daí minha admiração pelo episódio dos grampos, no geral, e pelo embaixador Júlio César, em particular. Ouvi o ex-chefe do cerimonial da Presidência declarar que US$ 250 milhões são m.. Para mim, meus amigos mais próximos, familiares, vizinhos, até mesmo para os meus desafetos, US$ 250 milhões é dinheiro pra burro. Eu me daria por satisfeito se ganhasse, sem fazer muito esforço, até mesmo 1% disso. Com US$ 2,5 milhões eu me sentiria bastante confortado, embora contrariando a abalizada opinião do embaixador. Daí que sua declaração reabilitou minha capacidade de admirar. Admirar o ex-chefe do cerimonial e invejar o presidente da República que tinha a seu dispor um homem de tamanha grandeza, um remanescente da era dos faraós. O presidente até que o desperdiçava, consultando-o sobre os ternos que deveria usar em Bruxelas e os filmes que precisava ver no cineminha do palácio. Já me dou por privilegiado em ser contemporâneo de um cidadão que considera US$ 250 milhões uma esmola para se dar a cego de porta de igreja. Pensava que acabaria meus dias sobre a face da Terra na certeza de que, a partir do primeiro milhão de dólares, saía-se efetivamente da própria. Ledo e ivo engano. Gostaria apenas de conhecer a opinião do embaixador sobre o próprio salário que ganha como funcionário do governo. E sua opinião sobre o país em que nasceu e que provavelmente lhe paga uma m.. Texto Anterior: A mina das universidades Próximo Texto: Ufanismo Índice |
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