São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ufanismo

DARCY RIBEIRO

Vejo o Brasil com o maior entusiasmo. Creio mesmo que não há nenhuma província na Terra nem povo algum tão apropriado para florescer como uma civilização bela, próspera e solidária.
Temos riquezas insuperáveis. Elas começam pela extensão imensa de terras úmidas, cultiváveis, iluminadas e aquecidas pelo sol mais intenso.
Nada é mais apropriado para a exploração da biomassa como a fonte energética do futuro imediato, já que o mundo só terá petróleo para mais 20 anos. Nossos inumeráveis rios caudalosíssimos guardam imensidades de águas vivas.
Formam uma trama navegável por canais que comunicarão o país inteiro. O principal deles será uma linha d'água de Belém do Pará a Buenos Aires. Suas cachoeiras podem nos dar dez vezes mais do que a muita energia hidrelétrica que usamos.
Contamos ainda com regiões ecologicamente diversificadas, como a Amazônia, o Nordeste, o Pampa, o Pantanal e muitas outras.
A Amazônia, vista pelos tolos como problema, é a oferta maior de biodiversidade vegetal e também de variedade de madeiras para todos os usos, e a maior reserva mineral do mundo.
Tudo tão majestoso e belo que tem sido chamado de "O Jardim da Terra". Será amanhã um centro mundial de turismo. Quem não quererá pegar a namorada pela mão para passear, pelados, naquele jardim?
Se a França e a Itália vivem desse negócio, mostrando ruínas, porque há séculos não fazem nada que preste, imagine o que ganharemos nós, abrindo aos homens "O Jardim da Terra"?
O Nordeste, muito caluniado pelos bobocas, é outro "Jardim da Promissão". Primeiro que tudo, como nosso maior e melhor criatório de gente alegre, trabalhadora e habilíssima.
Depois, porque tem milhares de quilômetros de praias de água morna. É outra área de turismo que se expandirá rapidamente, porque as praias das quais vivem a Espanha e Portugal já estão tão superlotadas de gente que eles têm de ficar de pé para tomar banho de sol.
Levantando as águas do São Francisco uns 200 metros acima do seu leito, a um preço razoável, o Nordeste seria um Israel gigantesco de terra irrigada.
Mesmo sem as águas do velho Chico, usando melhor os veios de água subterrânea, os açudes e cacimbas que temos, e cavando muitos outros, se poderá por Israel para trás.
O cerrado do Centro-Oeste e arredores, desde sempre discriminado, é hoje sabidamente o grande celeiro do Brasil e do mundo para produzir soja, trigo ou o que se quiser. Até árvores exóticas, plantadas lá como se fez em Brasília, crescem escandalosamente.
Ainda há a massa de gases petrolíferos e a oferta imensíssima de minérios de toda qualidade que dariam para nos enriquecer. Basta adotar o sistema do Alasca, que destina 30% das riquezas naturais não renováveis para criar riquezas permanentes.
Tudo isso e, principalmente, o povão de 150 milhões de pessoas, fundidas pela mestiçagem carnal e espiritual, cheios de vontade de trabalho, fartura e progresso, formam uma base que ninguém mais no mundo tem para eclodir uma nova civilização esplêndida.
Ruim aqui é a classe dominante atrasada e medíocre, que monopoliza a terra e se vende a interesses estrangeiros.

Texto Anterior: M.
Próximo Texto: FUTUROLOGIA; CONSTATAÇÃO; O HOMEM DOS ANOS 90; MUDANÇAS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.