São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995 |
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Betty Carter diz que ainda precisa aprender
MARCEL PLASSE
Por não fazer concessões à música comercial, seu trabalho permaneceu por décadas restrito aos conhecedores de jazz. Seus discos nem sequer saíam no Brasil. Mas bastou um álbum premiado com o Grammy ("Look What I Got", de 1988) para ela ser "descoberta" pelo grande público. Durante cinco anos (entre 1989 e 1993), Betty Carter foi considerada a melhor vocalista de jazz dos EUA pela revista especializada "Down Beat". Folha - Você sempre se apresentou no Brasil com músicos jovens. Por que essa preferência? Betty Carter - Venho trabalhado com jovens há 25 anos. Não é nada extraordinário. Acho a nova geração muito inteligente. Folha - Há quem a chame de purista. Isso a incomoda? Betty - Se isso significa que eu não quero me tornar uma rapper, não incomoda. Folha - O que você acha dos músicos de jazz que estão se misturando ao hip-hop? Betty - É a escolha deles. Rap não é uma música elaborada, que alguém precise estudar demais. A música é feita basicamente por computadores, então fica fácil. Folha - Você ganhou o apelido de Betty "Bebop" há cerca de 50 anos, mas não gostava. É uma ironia que ainda hoje seu nome seja lembrado junto àquela escola musical? Betty - Lionel Hampton costumava me chamar desse jeito na época em que o bebop surgiu. Na época Charlie Parker, Miles Davis, Dizzy Gillespie, Max Roach e Thelonious Monk faziam a música que todos queriam copiar. Mas eu não sinto falta daqueles tempos, nem nunca parei num determinado tipo de música. Se continuasse fazendo o que fazia nos anos 50, já teria sido descartada. Eu era uma menininha naquela época. Sou uma senhora, agora. Folha - Por que foram necessárias algumas décadas para seu trabalho ser apreciado com destaque pela crítica? Betty - Como o vinho, é possível ficar melhor com a idade. Sempre fiz a minha parte.. Eu poderia dizer porque isso aconteceu e porque aquilo não aconteceu, o porquê, o porquê e o porquê. É assim que os biscoitos emboloram. Na verdade, o que depende mesmo de você, enquanto pessoa, é fazer o que pode fazer de melhor. Folha - A música "The Man I Love" foi muito importante em sua carreira. Foi só coincidência ela ter voltado a aparecer no álbum que lhe valeu o Grammy? Betty - Não. Foi com ela que eu comecei. Mas se você comparar as versões vai reparar como evoluí. Você aprende e acaba fazendo as coisas de forma diferente. Mas não se trata de nada planejado. Tudo o que faço é espontâneo. Folha - Você sempre deixa sua marca nas canções que interpreta, mesmo nos clássicos... Betty - E por que não deveria? Por que deveria repetir exatamente o que outros já fizeram? Folha - Isso também significa que o novo show é completamente diferente dos anteriores? Betty - Sempre é. É jazz. Texto Anterior: Mostra projeta cidade surreal Próximo Texto: Toninho Horta retorna ao Brasil para apresentar seu novo álbum Índice |
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