São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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Tropa do Brasil é sitiada em Angola

RUI NOGUEIRA
COORDENADOR DE PRODUÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As tropas brasileiras que integram a missão de paz da ONU em Angola enfrentaram entre a noite de segunda-feira e a de ontem o primeiro incidente na ex-colônia portuguesa. Uma companhia com 120 soldados foi cercada na região de Andulo, centro-norte do país, e proibida pela Unita de fazer a patrulha da área.
O Ccomsemfa (Centro de Comunicação Social do Estado-Maior das Forças Armadas) informou ontem, no final da tarde, a liberação das tropas. "O vice-chefe da missão de paz sediada em Luanda, capital de Angola, o general indiano Saksena, comunicou por telefone ao brigadeiro Márcio Bhering do Emfa que os soldados estavam voltando ao quartel em Andulo", disse a assessoria do Ccomsemfa.
A Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), grupo rival do governo constituído pelo MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), domina a região onde está sediado o batalhão de infantaria à qual pertence a companhia imobilizada.
O embaixador de Angola em Brasília, Serra Van-Dúnem, viu na ação da Unita uma forma de chamar a atenção internacionalmente e "tumultuar a visita do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, aos EUA". Ele se encontra hoje com o presidente norte-americano, Bill Clinton.
O primeiro pelotão da companhia brasileira a receber ordem da Unita para paralisar o patrulhamento estava na região de Nhama, 22 km ao norte de Andulo. A Folha apurou junto ao Itamaraty que a ação da Unita também foi uma resposta ao confronto entre tropas do grupo guerrilheiro e do governo angolano na região de Soyo (norte), no início do mês.
A Unita sempre teve um relacionamento conflituoso com as tropas brasileiras, que, desde 89, participam de missões de paz em Angola. O partido considera o Brasil "aliado natural" do governo Ernesto Geisel ter sido o primeiro a reconhecer a independência da ex-colônia, em 1974.
Além da Unita, as tropas brasileiras em Angola enfrentam agora também o problema da malária.
Até ontem já tinham sido registrados pelo menos 29 casos - 19 no batalhão de infantaria e 10 na companhia de engenharia que atua na reconstrução de estradas em Calomboloca, perto da capital (Luanda).
Segundo o Ccomsemfa, todos os soldados atingidos pela malária estão medicados e passam bem. "Nenhum dos 29 está hospitalizado", informou a assessoria do Emfa.

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