São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 1995
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Verdes fazem campanha contra túnel Tiergarten

EDUARDO SIMANTOB
DE BERLIM

A construção do túnel sob o Tiergarten levaria à morte mais de um terço das árvores do parque.
A partir desta constatação, exposta nas discussões do projeto -em andamento na assembléia municipal de Berlim-, as organizações ambientalistas entraram em ação, estimulando a iniciativa dos cidadãos por meio de coleta de assinaturas, pressão sobre a prefeitura e a criação de uma agência que concentre todas as suas atividades (a Anti-Tunnel GmbH).
Todos as tardes, cerca de 150 pessoas, na maioria ativistas verdes, concentram-se num ponto do parque próximo ao Portão de Brandenburgo e realizam uma pequena passeata diária, protestando contra o túnel, até o Reichstag (o antigo e futuro Parlamento Alemão, atualmente em obras e "empacotado" em julho pelo artista búlgaro Christo Javacheff, nas comemorações de seu centenário).
Além disso, os verdes mantêm um controle constante da futura "boca" do túnel por meio de entregadores de simpatizantes do movimento, que diariamente checam se as obras já começaram.
A passeata é sempre acompanhada por uma equipe de cerca de 25 policias divididos em cinco furgões. Mas sua função restringe-se a "proteger os manifestantes e evitar problemas com o tráfego".
Indagados sobre o que achavam da construção do túnel, três dos policiais que acompanhavam o cortejo -e que não quiseram se identificar- afirmaram que, enquanto cidadãos berlinenses, apóiam integralmente os manifestantes e a preservação do parque.
Jan Werner, 28, guia turístico e um dos coordenadores da ação anti-túnel, explica que o impacto da obra sobre o parque não se limita às árvores.
A construção do túnel implica num desvio do leito do rio Spree, que corta a cidade e delimita o Tiergarten ao norte, com consequências imprevisíveis.
Mas uma das consequências previsíveis, segundo Werner, é uma diminuição brutal do parque, transformando irreversivelmente este pedaço da cidade num "centro de concreto".
O Tiergarten era um espaço de recreação e caça da realeza (século 17), aberto aos cidadãos no século seguinte. Na segunda metade do século passado, com o salto industrial alemão começou-se a pensar em uma via de tráfego no parque.
Já na década de 30, sob os auspícios de Adolf Hitler, o arquiteto do Reich, Albert Speer, formulou um projeto futurista de uma via de automóveis, ladeada por construções majestosas e condizente com o progresso e expansão da indústria automobilística à época.
Werner lembra que a idéia de Speer, deixada de lado devido à escalada da Segunda Guerra, "é até modesta comparada com o que pretendem fazer agora".

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