São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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Jorge Fernando deita e rola na comédia

DANIELA ROCHA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Espetáculo: A Gaiola das Loucas
Texto: Jean Poiret
Direção: Jorge Fernando
Elenco: Jorge Dória, Carvalhinho, Marcelo Barros, Erika Haidar
Quando: estréia hoje, às 21h; qui a sáb, às 21h, e dom, às 19h
Onde: teatro Gazeta (av. Paulista, 900, centro, tel. 253-4322, ramal 231)
Ingresso: qui, R$ 15; sex, R$ 20; sáb, R$ 25 e dom, R$ 20

Dois dias em São Paulo foram suficientes para o diretor Jorge Fernando, 40, organizar a montagem de "A Gaiola das Loucas" no teatro Gazeta.
Sucesso de público no Rio por 14 meses, a remontagem da peça traz nos papéis principais os mesmos atores protagonistas de 1973: a dupla Jorge Dória e Carvalhinho, do extinto teatro de revista.
"A Gaiola das Loucas" é a história de dois homossexuais. Um deles tem um filho que se apaixona pela filha de um deputado. O desafio é manter o segredo do "desvio" sexual dos dois.
Jorge Fernando assistiu à montagem em 1973, na época em que seu pai o sustentava para fazer suas primeiras peças de caráter político. Não gostou do que viu então. "Naquela época eu era besta. Pensei: Isso não é o tipo de teatro para mim. Era pretensioso, 'politiquinho' de merda. Teatro tinha que ser seco, forte. Nunca me imaginei um dia aqui, montando a peça. Ele fazia teatro de subúrbio, morava no Méier (Rio) e abandonava a escola no científico.
Em pouco tempo ele incluiu em seu currículo "Dois Perdidos numa Noite Suja", de Plínio Marcos, e acabou descobrindo que "o musical leva às pessoas um mundo mais gostoso do que o teatro que traz a uma realidade cruel. "Descobri minha praia: queria fazer o povo rir, se divertir. Meu barato era o show".

Folha - Ainda existe preconceito contra comédia?
Jorge Fernando - Eu já sei que nunca vou ser chique, "cult". Sempre vou ser comercial. Existe sim preconceito, e também com espetáculos sem grandes propostas de revolucionar o teatro.
No momento em que aceito fazer "A Gaiola das Loucas", que já foi consagrado nos anos 70, faço um verdadeiro exercício de comédia. É a receita do bolo, os ingredientes que fazem o povo rir a cada dois minutos. Essa catarse que se forma a partir de uma comédia é uma alquimia muito difícil e muito estimulante. É um desafio remontar uma peça que já foi um supersucesso. Só aceitei fazer porque o elenco é o mesmo da primeira montagem, de 1973.
Folha - Você atualizou o espetáculo?
Jorge Fernando - Tentei não modernizar o espetáculo, que para mim é de época, como fiz com o "Hair". Odeio adaptação. No momento que se tem o Jorge Dória, qualquer coisa que se armasse fora do espaço para ele criar estaria errada. O prazer de ver um dos melhores atores em cena é fascinante.
Folha - Está havendo uma retomada do besteirol e dos musicais em teatro?
Jorge Fernando - Acho que sim. Nos anos 80, o mundo não era tão amargo, então se podia dar ao luxo de dentro de um teatro pesar o clima. O mundo agora está muito triste, por isso é importante a retomada da comédia. Acho que as pessoas estão cada vez mais individualistas. Acho que os meus 40 anos trouxeram consciência de como a gente tem pouco tempo de vida. Estou perdendo minha vaidade e descobrindo o prazer da maturidade, quando não se tem que provar nada a ninguém.
Folha - Quais experiências você leva do teatro para a TV e vice-versa?
Jorge Fernando - Levo para a TV a marcação. Marco teatralmente os atores, quando em geral se utiliza movimentar as câmeras.
Para o teatro, levo a agilidade. Minha intuição hoje fala mais alto para dirigir cenas em TV e teatro.
Folha - Você pretende ainda fazer outros gêneros de teatro?
Jorge Fernando - O que me falta é fazer cinema. Estou querendo encontrar um texto dentro da realidade do Brasil que marque como meu primeiro filme.
Folha - Você abre mão do glamour de um teatro intelectualizado para ser popular?
Jorge Fernando - Prefiro o prazer popular. Eu gosto de Broadway. Sou o único que gosta.

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