São Paulo, sábado, 9 de dezembro de 1995
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Ciclo mostra o cinema japonês comercial

ROBERTO HIRAO
DA FT

A Cinemateca Brasileira oferece, de hoje ao dia 17, uma rara oportunidade de assistir filmes produzidos no auge do cinema japonês, nos anos 60 e 70.
A mostra reúne 16 produções de grandes estúdios da época. São na maioria filmes comerciais, escolhidos entre 400 títulos doados à Cinemateca Brasileira pela empresa Cine Niterói em 1977, quando esta encerrou suas atividades.
O ciclo chama-se "Revendo o Cinema Japonês", mas poderia ter outro título, algo como "Cinema Japonês não é só Kurosawa". Não foi selecionado um só filme do mais conhecido diretor japonês no exterior. Nem precisava, porque a maior parte da obra do "mestre" pode ser conhecida em vídeo.
Em compensação, estão programados três filmes de Eizo Sugawa, um diretor de linha da Toho, que era apontado como gênio por parte da crítica do Brasil. São eles "Desafio à Vida" (61), "Caça às Feras" (73) e "A Volúpia da Vingança" (74).
Mishima
A maior curiosidade do ciclo está num filme menor, "Bando de Assassinos", dirigido por Hideo Gosha. No elenco aparece o controvertido intelectual Yukio Mishima, romancista, dramaturgo e ator de sucesso. Interpretava personagens duros, viris e valentes. Era o padrão de macho para o público japonês, mas não escondia sua homossexualidade.
Radical de direita, Mishima achava que o Japão guerreiro estava sendo substituído por um Japão medroso e decidiu reagir à sua maneira, organizando uma milícia própria. Transformou sua morte num grande espetáculo, transmitido ao vivo pela televisão.
No dia 26 de novembro de 1980 invadiu, com o seu exército brancaleônico, o quartel das Forças Autodefesa do Japão, fez um discurso nacionalista e suicidou-se ao estilo dos samurais, rasgando a barriga com uma espada. O ritual de sangue, transmitido ao vivo, terminou quando um assistente cortou a sua cabeça com outra espada.
Sua vida foi tema de um filme de Hollywood, dirigido por Paul Schraeder, chamado "Mishima".
A exibição de "Bando de Assassinos" está marcada para 19h30 de 15 de dezembro na Sala Cinemateca (rua Fradique Coutinho nº 361). A mostra começa às 15h30 de hoje, com "O Samurai em Copacabana", um filme turístico sem qualquer importância. As três sessões seguintes elevam o nível, com "Aqui Termina o Inferno", de Masaki Kobayashi (17h20), "Flor e Dragão", de Masahiro Makino (19h30) e "Caça às Feras de Eizo Sugawa" (21h40).

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