São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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PF e Senado vão culpar ex-chefe do Incra

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sindicância da PF (Polícia Federal) deve concluir pela participação do ex-presidente do Incra Francisco Graziano na operação que a levou a investigar o embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial da Presidência.
A Folha apurou que os primeiros depoimentos revelam a atuação de três agentes da PF na operação: 1) o delegado Mário José de Oliveira Santos, ex-chefe do Centro de Dados Operacionais da PF; 2) Cláudio Vieira Mendes, chefe do Setor de Segurança de Dignatários; 3) Paulo Chelotti, agente da PF e ex-assessor de Graziano.
Oliveira solicitou o grampo à Justiça. Mendes ajudou-o a realizar o monitoramento. Paulo Chelotti era o elo da dupla com Graziano. Mendes e Chelotti conheciam-se da época da campanha eleitoral de FHC à Presidência.
As informações sobre a participação de Graziano "vazaram para integrantes da supercomissão do Senado que investiga o escândalo Sivam. Parte do relatório deve ser dedicada ao "grampo".
Se, por alguma razão, a PF resolver encobrir a participação de Graziano, a supercomissão pretende apontá-lo como mentor intelectual da ação que conduziu o governo à sua maior crise desde a posse.
Os trabalhos da comissão devem ser concluídos nos próximos 30 dias. A sindicância da polícia terminará antes desse prazo. Há no Senado dúvidas quanto à participação de Vicente Chelotti, diretor da Polícia Federal, no episódio.
No Ministério da Justiça, sustenta-se que Chelotti só soube da escuta em meados de outubro, quando o delegado Mário José lhe entregou o relatório sobre as fitas.
Alguns senadores acham improvável que Paulo Chelotti tenha agido à revelia do diretor da PF, seu irmão. O ministro Nelson Jobim, a quem Vicente Chelotti está subordinado, disse que irá mantê-lo no cargo.
O presidente Fernando Henrique Cardoso continua ruminando a suspeita de que três conversas que manteve com Júlio César foram bisbilhotadas pela polícia.
A cisma do presidente baseia-se no fato de que ele ligou três vezes para a casa do embaixador, justamente no período em que seu telefone estava grampeado.
A PF nega ter gravado diálogos de Júlio César com o presidente. Diz que, além dos diálogos já divulgados, as fitas registrariam apenas conversas banais de empregados da casa do embaixador. A polícia diz ainda que tais conversas foram todas desgravadas.
Na última semana, um parlamentar aliado do governo informou a FHC que se formou no Congresso uma onda de mexericos em torno dos trechos ainda desconhecidos das fitas. Ninguém dá crédito à versão da polícia de que tais trechos tenham sido desmagnetizados.
O presidente acalmou o aliado. Disse que, ainda que tenham sido gravadas, suas conversas são banais e nada comprometedoras.

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