São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Aeronáutica já beneficiou dono da Líder Aeronáutica já beneficiou dono da Líder

XICO SÁ; LUCAS FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aeronáutica já beneficiou dono da Líder
Quando representante da Learjet, José Afonso Assumpção vendeu pelos menos seis aviões ao governo sem licitação
XICO SÁ
O comandante José Afonso Assumpção, dono da Líder Táxi Aéreo e representante da Raytheon no Brasil, foi beneficiado pelo Ministério da Aeronáutica na venda de aviões ao governo federal.
Assumpção fez contratos, sem concorrência pública, para fornecimento de pelo menos seis aviões Learjet 35 à FAB (Força Aérea Brasileira) durante o governo Sarney (1985-90).
O negócio foi realizado da mesma forma que ocorreu com o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), também sob o argumento de que se tratava de uma questão de segurança nacional.
No comando do lobby para que o negócio tivesse êxito estava o mesmo Assumpção, na época representante no Brasil da empresa americana Learjet e hoje representante da Raytheon, firma também americana que ganhou o contrato do Sivam.
Os aviões são utilizados até hoje pela FAB de duas maneiras: para serviços tidos como como "vips" (viagens de ministros, por exemplo) e trabalhos técnicos de aerofotogrametria.
Na assessoria do Ministério da Aeronáutica também já estavam, no governo Sarney, pessoas que hoje estão ligadas à defesa do Sivam, como os brigadeiros Lélio Viana Lôbo (atual ministro) e Mauro Gandra (ex-ministro), ambos amigos de Assumpção.
Em custos atualizados, o governo gastou US$ 36 milhões com a compra dos seis aviões.
Em visita a São Paulo em 19 de fevereiro de 1988, o então diretor da divisão de aviões da Learjet, William Boettger, em evento realizado no Hotel Maksoud Plaza, falou sobre a compra da FAB.
No evento, Boettger apresentava para empresários do Brasil novos modelos da Learjet (o 55C e o 31) e disse que o setor público era responsável neste país pela aquisição de até 15% dos seus aviões.
A vinda do diretor da Learjet a São Paulo foi organizada pelo comandante Assumpção, que começou a sua parceria de negócios com a empresa americana em 1971 -dois anos após adquirir para a Líder o seu primeiro Learjet.
Vender aviões para o governo sempre foi um negócio atrativo para Assumpção. Na conversa "grampeada" com o embaixador Júlio César dos Santos, o comandante revelou que estava praticamente fechado o negócio para a renovação da frota que serve aos ministros. Gravada pela PF, a conversa de Assumpção e Júlio César trouxe de volta o caso Sivam.
Como foi revelado no diálogo com o embaixador, Assumpção também sempre foi generoso ao fazer lobby.
Segundo um ex-comandante da Líder ouvido pela Folha, funcionários do segundo escalão da Aeronáutica foram presenteados com viagens ao exterior durante as negociações para a venda dos aviões.

Colaborou LUCAS FIGUEIREDO, da Sucursal de Brasília.

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