São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Caetano leva 100 mil à esquina de 'Sampa'

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 100 mil pessoas assistiram, anteontem à noite, Caetano Veloso cantar São Paulo nas esquinas da avenidas São João e Ipiranga, cruzamento imortalizado na letra de "Sampa", de sua autoria.
Apesar da platéia numerosa, a PM não registrou nenhuma ocorrência durante o show. Apenas 13 pessoas foram encaminhadas aos postos médicos montados na área do espetáculo -a maioria sofrendo de mal-estar.
O espetáculo comemorou o aniversário de 50 anos do Banco Itaú.
Vestindo um terno creme, com um colete areia, Caetano subiu ao palco dois minutos depois das 19h45, o horário previsto, para um espetáculo que durou duas horas.
"Se eu pudesse, dedicaria esse show, individualmente e nominalmente, a cada um dos habitantes da cidade de São Paulo. Mas, como não posso, dedico, pessoalmente e simbolicamente, para meu irmão Roberto Veloso, que elegeu essa cidade há mais de três décadas", discursou Caetano após cantar "Volta Por Cima" (Paulo Vanzolini), que abriu a apresentação.
Roberto assistia o espetáculo em frente ao palco, junto com Paula Lavigne, mulher de Caetano.
O show foi profícuo em homenagens. Traçado especialmente para a noite, o repertório percorreu um roteiro sentimental da relação de Caetano com São Paulo.
O cantor citou amigos com quem conviveu na cidade, em 67 e 68, como Chico Buarque e Toquinho, homenageados com "Carolina" e "Tarde de Itapuã".
Rita Lee, a mais completa tradução da cidade, segundo "Sampa", também foi lembrada com "Agora Só Falta Você".
"Sonífera Ilha", dos Titãs, lembrou roqueiros que vieram depois. De Adoniram Barbosa, Caetano pegou "Saudosa Maloca". Do tropicalismo, cantou "Tropicália" e "Alegria Alegria".
Ao todo foram 25 músicas, sem contar a repetição de "Sampa", que encerrou o show.
Nos intervalos entre as músicas, Caetano tecia comentários sobre a inclusão das canções no repertório e lembrava alguns fatos da época em que morou na esquina da avenida São Luis com Ipiranga.
O cantor disse que se não tivesse sido preso, em 68, "talvez ainda estivesse morando na cidade".
Ao cantar "Alegria Alegria", algumas pessoas balançaram lençóis brancos nas janelas de prédios próximos. No final, o músico teve o seu nome entoado em coro, como um ídolo de futebol em um estádio lotado.
Emocionado, Caetano agradeceu à platéia: "Muito obrigado por hoje, por sempre, por tudo."

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