São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vaga vai com justiça para o Botafogo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tudo bem. O Cruzeiro foi heróico, jogando praticamente o segundo tempo todo com 10 jogadores, contra 11 do Botafogo, dominou a bola e os espaços a maior parte do tempo, perdeu duas ou três chances de ouro, meteu uma bola na trave e teve o craque da partida na figura do menino Serginho, que entrou e arrebentou. Mas foi o Botafogo que teve o gol a seus pés por sete vezes -em três, a bola bateu na trave; as demais foram conjuradas pelo goleiro Dida. Logo, não se pode dizer que foi um resultado injusto para o Cruzeiro esse empate de 0 a 0 no Maracanã, ontem à tarde, que acabou classificando o Botafogo para a decisão do título brasileiro deste ano.
Mais que isso: se teve um time que mereceu chegar lá foi, durante os dois turnos, o Botafogo, o que cumpriu campanha mais equilibrada ao longo de todo o torneio.

O ano do centenário do Flamengo se fecha sem que o rubro-negro, ao menos, pudesse festejar a conquista de um título. Pior do que não fazê-lo é ter vivido, em vão, a maior expectativa de sua história. Sim, porque não conheço nenhum capítulo tao frustrante da vida do Flamengo. Mesmo porque seus grandes momentos de glória surgiram naturalmente, quando não inesperadamente. O sucesso anunciado, como aconteceu nesta temporada, com a contratação de superestrelas do brilho de um Romário e de um Edmundo, é um fenômeno singular na história do Flamengo.
Seus memoráveis esquadrões armaram-se assim, sem muita badalação. Nem quando Leônidas foi contratado depois de tortuoso e breve périplo do Bonsucesso ao Nacional de Montevidéu, do Vasco ao Botafogo nos anos 30, apesar de já ter disputado uma Copa do Mundo, a de 34; nem quando Zizinho chegou de Niterói numa tarde de treino para fazer um teste, entrou no lugar de Leônidas, fez dois gols de placa e começou a construir o mito do Flamengo invencível dos anos 40.
Muito menos quando a Gávea, na década de 50, se transformou numa usina de jovens craques sob a varinha mágica do feiticeiro paraguaio, don Fleitas Solich. Era de se ver como saía um ataque formado por Nestor, Hermes, Adaozinho, Benitez e Esquerdinha e entravam Joel, Rubens, Indio, Evaristo e Zagallo, que logo cederiam sua vez para Dida, Henrique, Paulinho, Moacir, Babá, Duda, Duca, sei lá quantos mais.
Até mesmo o Flamengo campeão do mundo, forjado pelo saudoso Cláudio Coutinho, na virada dos 70 para os 80, o Flamengo de Zico, que chegou ao título mundial, nasceu sob suspeita. Afinal, Cláudio Adao chegou à Gávea numa ambulância, enquanto Carpeggiani era dado como caso terminal para o futebol. Raul, o Raul da camisa amarela do Cruzeiro, este, então, já havia até pendurado as chuteiras.
Todos reergueram-se, apoiados numa rapaziada anônima como Adílio, Andrade, Rondinelli, Leandro, Júnior, Tita e cia. Isso, claro, sem se falar no talento inexcedível de Zico.
Neste ano de festas rubro-negras, pois, se nao há um mísero título para ser celebrado, que se celebre, então, a lembrança do que poderá vir a ser novamente esse Flamengo cheio de glórias.

Texto Anterior: O JOGO
Próximo Texto: O Botafogo merece
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.