São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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SBT perde personalidade com telejornal

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

As mudanças no telejornalismo do SBT, realizadas na última semana, causam espanto. Com a criação do "SBT Notícias", no horário do "Aqui Agora" (transferido para a hora do almoço), a emissora parece mais perder do que ganhar em personalidade.
O "Aqui Agora" é um jornal forte e polêmico. Ao longo de seus cerca de 5 anos de existência conquistou um público cativo, altamente identificado com sua perspectiva popular. Causou espécie também no meio televisivo, alterando a pauta e o estilo de outros telejornais, há muito acomodados em receitas superadas.
Ameaçado de extinção, sua transferência para o horário vespertino representa uma solução menos radical, mas duvidosa. Mediação de conflitos, sensacionalismo na cobertura da violência, agilidade da câmera "subjetiva" que transporta o espectador ao local do crime compõem a receita de um programa polêmico e muitas vezes questionável.
Mas certamente, como bem notou um comunicólogo em uma reunião acadêmica, há ainda muito o que desenvolver nos marcos do formato para viabilizá-lo e conquistar anunciantes.
O "SBT Notícias", "um jornal novo e interessante", parece mais adequado para o almoço. O dinamismo do telejornal fica limitado à movimentação dos apresentadores, estranhamente situados de pé em meio a um cenário carregado de computadores e monitores de TV.
Eliakim Araújo e Leila Cordeiro se posicionam de maneira variada. Mas não há relação nenhuma entre a notícia pronunciada e o cenário novidadeiro. O mapa do Brasil pode servir de fundo a uma notícia internacional. Assim, a pauta, que já é fria, vira um gelado show de variedades, muito distante do calor influente e opinativo de um "Aqui Agora" ou do "TJ Brasil".
"Globo Repórter"
O "Globo Repórter" da última sexta novamente se arvorou por temas provocativos, abordando a questão racial. No Brasil há preconceito. A Globo demora, resiste, mas termina colocando o dedo na ferida. Alternou momentos fortes com deslizes que sugerem que um empenho em inovações formais não fariam mal às novas opções de pauta.
Mostrou um flagrante de racismo na rua. Um ator negro foi preterido por um ator branco ao tentar pegar um táxi. Diante dos protestos do negro, o motorista esbravejou, desceu do carro para brigar, alegando ter identificado o passageiro em potencial com um guardador de carros. Mostrou também as comoventes lágrimas da menininha Valéria, aluna de uma escola onde a herança negra é positivamente trabalhada.
Mas, ao chegar às comunidades negras descendentes dos quilombos, a repórter tenta demonstrar o isolamento a que estão condenadas, mostrando que as crianças não conhecem Xuxa e Papai Noel.
Aqui, a reportagem foi incapaz de penetrar o cotidiano daqueles que não têm TV, mas certamente vivem em um universo povoado de fantasias, com as quais provavelmente temos muito a aprender.

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