São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Malle revê com humor a festa de 68

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Há mais de um motivo para rever "Loucuras de uma Primavera" (Globo, 2h20). A morte de seu diretor, Louis Malle, é uma delas, não a mais relevante.
Afinal, Malle morreu há mais de 15 dias. Em compensação, a França está às voltas com uma greve colossal, e é disso, em parte, que o filme trata: do Maio de 68 e suas atribulações.
No caso, elas se abatem sobre a família de Milou (Michel Piccoli), um simpático burguês do interior, que espera poder enterrar a mãe. Mas como, se todo o país está parado?
Daí para uma alucinada viagem em torno do que foram os diversos sentimentos envolvidos naquela primavera, é um pulo. O que significou Maio de 68 ainda é um mistério. Foi festa, política, liberação geral? Um pouco de tudo, com certeza.
Mas o que dominou, segundo Malle, foi uma alucinação coletiva, em que toda a França (e o mundo, junto) acreditou estar fazendo uma revolução, mas talvez estivesse fazendo a representação de atos revolucionários (e seu enterro).
Não é qualquer um que pode falar com distanciamento desses momentos inflamados e, de todo modo, vitais. Malle participou do movimento, foi para a rua distribuir panfletos e tudo mais.
Ao mesmo tempo, nunca deixou de ser um filho de família burguesa. Os dois aspectos são indissociáveis do filme.
O certo é que Maio de 68 foi um momento também cheio de humor. "Loucuras de uma Primavera" não pretende reconstituir o clima daquele momento. É, antes, um comentário que agrega seus diversos sentidos, ao mesmo tempo em que postula uma ausência de sentido que não vê como dele, apenas, mas da existência em geral.
(IA)

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