São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995
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Violência predomina nos novos filmes

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não poderia haver maior variedade de gêneros e temas entre os longas-metragens de estreantes que veremos em 1996.
Se existe algo comum a filmes tão heterogêneos, é a presença, explícita ou sutil, da violência.
Assassinatos e agressões estão no centro de "Um Céu de Estrelas", "Jenipapo", "Dezesseis Zero Sessenta" e "Os Matadores", mas rondam também "Baile Perfumado", "Buena Sorte" e "O Sertão das Memórias".
Outra tendência que pode ser detectada é a predominância da temática rural. A rigor, só "Dezesseis Zero Sessenta" e "Um Céu de Estrelas" são filmes essencialmente urbanos. Ambos, aliás, aprisionam a ação no interior de um único espaço -um palacete burguês no primeiro, uma casa de bairro operário no segundo.
Nos outros filmes, o ambiente privilegiado é o campo, ou, em todo caso, o interior do país.
A maneira como esse interior é mostrado, entretanto, varia drasticamente de um filme para outro.
Em "Buena Sorte" aparece o campo rico e modernizado do interior paulista, dos jipes importados e festas do peão boiadeiro. É "o Brasil que dá certo", na definição de sua diretora, Tania Lamarca.
O campo de "Jenipapo", de Monique Gardenberg, é o dos conflitos de terra, dos assassinatos de posseiros e padres. O de "Os Matadores", de Beto Brant, é a terra sem lei dos assassinos de aluguel na fronteira com o Paraguai.
O campo de "O Sertão das Memórias", de José Araújo, é das mitologias arcaicas do Nordeste; o de "Baile Perfumado", de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, é o dos bastidores da história do cangaço.
Os filmes de Monique Gardenberg e José Araújo, apesar de contrastantes na linguagem e no formato (o primeiro é uma co-produção internacional falada em inglês, o segundo, um filme barato, com atores não-profissionais), têm uma característica comum: ambos representam para seus autores uma "volta às origens".
Os dois cineastas viveram nos Estados Unidos antes de voltar para retratar os lugares de sua infância: o recôncavo baiano no caso de Monique, o sertão do Ceará no de Araújo.
Os filmes de Cecílio Neto ("A Reunião dos Demônios", em filmagem) e Eliane Caffé ("Kenoma", em preparação) têm temas mais universais, por isso sua ambientação é menos definida.
O primeiro fala de crianças que evocam o demônio para satisfazer seus desejos, o segundo trata da utopia do moto-perpétuo (máquina que se move sem energia externa).
Também nas propostas estéticas a diversidade é enorme. Enquanto "Jenipapo" e "Buena Sorte" buscam um padrão "standard" de qualidade internacional, "Um Céu de Estrelas" exibe uma estética rude, com muita câmera na mão.
A estilização de "Dezesseis Zero Sessenta" e "O Sertão das Memórias" (rodados em preto-e-branco) contrasta com o cru naturalismo de "Os Matadores".
Enfim, tem filme para todos os gostos.

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