São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 1995 |
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Benshi retoma tradição japonesa no MIS
INÁCIO ARAUJO
O filme -"Jirokichi, o Rato", de Daisuke Ito (1931)- mais a atuação da benshi formaram um espetáculo que já não é mais o cinema, tal como o conhecemos: trata-se de uma superposição de artes na tradição teatral japonesa. Ali estão, de algum modo, várias de suas modalidades. O bunraku, em que a animação de bonecos é feita -ao contrário dos fantoches ocidentais- com o ator em cena. Ou o teatro nô, em que a ação é explicada por um narrador (o nô é representado em linguagem arcaica). Ou ainda o kabuki, que reúne elementos do drama, da comédia, das variedades, e em que uma das características principais é o não-ocultamento do maquinário. No benshi, não se trata de fingir que o espectador está vendo um filme sonoro. O espectador permanece com um olho grudado no filme e outro na benshi. Ela fica à esquerda da tela, iluminada por dois abajures, com o roteiro do filme e dois copos d'água a seu lado. É uma atriz que anima as figuras do filme mudo com suas diversas vozes: faz tanto os papéis masculinos como os femininos (pois é de interpretação que se trata). Atribui ênfases às falas, retoma os sentimentos dos personagens (dor, espanto etc.). Em vários momentos, nota-se que as falas estão num sincronismo quase perfeito. Mas não se trata de imitar um filme sonoro e, sim, de acoplar a voz às intensidades visíveis na tela. Nunca perdemos de vista as dimensões do artifício e do trabalho. O benshi cria um espetáculo que se desenrola ao lado do filme. Sentimos que esse espetáculo é preparado com o mesmo cuidado (e esforço) que exige uma performance teatral. Daí ser possível ficar vários momentos apenas observando seu trabalho, que se desenvolve numa calculada penumbra: é o cinema e seu duplo. Esse duplo, não é demais lembrar, desenvolveu-se, sexta-feira, sobre um trabalho de um cineasta ilustre, Daisuke Ito, especialista em filmes de ação. No caso, contando a história do ladrão Jirokichi, cujos atos colocam a nu as ações legais dos poderosos. Esta é, aliás, outra característica de Midori Sawato, cujas preferências -"A Feiticeiras das Águas", que mostrou no sábado, e "O Samurai Serpente", ontem- recaem quase sempre sobre filmes com temática social. "Jirokichi" é um filme sofisticadíssimo, que ilustrou à perfeição o trabalho da benshi. Um trabalho que vai ao encontro da tradição japonesa e afirma a particularidade do Japão: tanto produz o moderno mais extremado como faz de suas tradições coisas vivas e atuais. Texto Anterior: Diretores têm currículo variado Próximo Texto: Apresentação emociona imigrantes Índice |
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