São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 1995
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MST promete 'janeiro quente' de invasões

GEORGE ALONSO; CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) articula para 2 de janeiro o reinício das ocupações de terra no Pontal do Paranapanema (região no extremo oeste do Estado). O movimento promete um "janeiro quente", referindo-se à intensidade das invasões, e suas lideranças dizem não acreditar mais nos acordos firmados com o governador Mário Covas (PSDB).
Contrariando expectativa do governo, a juíza Catarina Sílvia Riobal da Silva, de Mirante do Paranapanema, não concedeu até ontem liminar que permitiria a desapropriação de 26 mil hectares, correspondentes a 30% de 11 fazendas no Pontal.
O secretário Belisário dos Santos Jr. (Justiça), responsável pelas negociações com o MST, disse em entrevista na semana passada, ele já admitia que o governo trabalhava no limite e que dependia da decisão judicial para iniciar os assentamentos. Ontem ele não foi localizado.
As terras, devolutas, seriam utilizadas pelo governo para assentar 1.050 famílias até 31 de dezembro, número previsto em acordo. O governo esperava para segunda-feira a concessão de liminar, o que permitiria o início dos assentamentos até o fim desta semana.
Depois de avaliar por 15 dias a ação do governo, a juíza não chegou a uma conclusão, o que inviabiliza o cumprimento do prazo definido pelo governador tucano.
"Vamos cumprir nossa parte no acordo. A partir do dia 2, não tem mais hora para as ocupações", disse ontem à tarde Gilmar Mauro, dirigente nacional dos sem-terra, que atua em São Paulo.
O MST suspendeu as invasões de terra no Pontal no último dia 4 de novembro, quando Covas fechou o acordo.
Na ocasião, Covas disse à Folha que o assentamento de 1.050 famílias até o fim deste ano "era o máximo" que podia ser feito para que ninguém fosse, depois, chamado de "mentiroso".
Ontem, Gilmar Mauro declarou que, se Covas não cumprir o acordo, passará a ser chamado de "governador mentiroso". "Estamos recuperando as gravações de TV e rádio onde ele disse que poderia ser chamado de mentiroso se não cumprisse sua palavra", afirmou o dirigente do MST.
Os sem-terra também rechaçam a proposta do governador de realizar assentamentos provisórios das 1.050 famílias. "Primeiro, prometeu assentamentos definitivos. Depois, falou em provisórios. E agora não consegue cumprir nem isso", disse Gilmar Mauro.
O MST fará um encontro estadual de lideranças nos dias 4 e 5 de janeiro, em Franco da Rocha (Grande São Paulo), quando serão definidas novas ações no Estado de São Paulo.
O MST não descarta a realização de invasões simultâneas em várias regiões do Estado, nos municípios de Andradina (onde estão acampadas 600 famílias), Iaras (300 famílias) e Rancharia.
Neste último município, a área disponível para assentar 170 famílias só tem capacidade de abrigar 48 famílias. O problema será discutido amanhã em Promissão (SP) com a superintendência paulista do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
A Folha procurou o governador Mário Covas durante toda a tarde ontem. A informação é que ele estava em reunião. Até o fechamento desta edição, às 20h, não havia resposta do governo para as acusações do MST.

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