São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Acervo de Mário de Andrade é tombado

DA REPORTAGEM LOCAL

O acervo do escritor Mário de Andrade foi tombado como patrimônio nacional, depois de um processo que durou 15 anos.
O Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) decidiu pelo tombamento em 11 de setembro e na semana passada comunicou ao IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), da USP.
"Este tombamento significa a preocupação do Iphan e a obrigação de preservar bens móveis, além de bens imóveis e monumentos. É um reconhecimento para um patrimônio que preserva recortes da cultura brasileira do período entre guerras", afirma Marta Rosseti, diretora do IEB.
O ministro da Cultura Francisco Weffort entrega ao IEB, nesta segunda-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, o Prêmio Rodrigo de Mello Franco de Andrade, do IPHAN.
"Esta premiação leva em conta a preservação dos 25 acervos a cargo do IEB como o de Mário de Andrade, de Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Anita Malfati", diz Rosseti.
Há 23 anos o acervo de Mário de Andrade está no IEB. Inclui uma biblioteca com 17 mil volumes, o arquivo pessoal e três coleções: a de artes plásticas, com a amostra mais expressiva de peças da Semana de 22; uma coleção de arte religiosa e popular; e outra com objetos relacionados à Revolução de 22.
Os arquivos se compõem de 1.200 fotografias e 30 mil documentos. São textos jornalísticos, pesquisas etnográficas e musicais, correspondência e manuscritos de autores brasileiros, colegas de Mário de Andrade.
"A troca de textos e opiniões de Mário com seus contemporâneos como Drummond, Bandeira e Nava era um verdadeiro carteado literário", diz a professora de Literatura Telê Ancona Lopes, responsável pela organização do arquivo desde 1968.
"Outra série importante do arquivo são documentos da relação dele com os jovens escritores que o tinham como mentor intelectual. Murilo Rubião, Henriqueta Lisboa e Breno Acioli mandavam textos para que Mário opinasse", diz.
Boa parte da correspondência já foi divulgada. Mas as cartas recebidas por Mário de Andrade só tiveram permissão para divulgação 50 anos depois da morte do escritores, conforme seu testamento.
Uma equipe cataloga a correspondência. A publicação está programada para março. Entre os volumes da biblioteca a coleção de música é das mais completas, com volumes privilegiando Wagner e os dodecafônicos como Schoenberg, Webern e Alban Berg.
A coleção de artes visuais do escritor tem mais de 2.000 obras, divididas em três sub-coleções: uma de pinturas, uma de esculturas do século 20, outra de imagens religiosas e arte popular.
A primeira traz obras como "O Homem Amarelo", de Anita Malfati, e "A Família do Fuzileiro", de Guignard e todas as esculturas de Brecheret expostas na Semana de 22. Retratos de Mário de Andrade por Portinari, Lasar Segall, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti fazem parte do acervo.
"O método de pesquisa de Mário de Andrade também é revelado nas coleções de arte religiosa e popular. As imagens religiosas mos tram como os artesãos retransformavam as influências eruditas", diz Marta Rosseti.

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