São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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NA PONTA DA LINHA

MARCELO LEITE

Quando terminei o esboço desta coluna, quinta-feira à noite, reparei que o aparelho de fax ao lado tinha recebido a seguinte carta da jornalista Magda de Almeida, do Rio de Janeiro. Impressionado com a coincidência, decidi criar um novo rodapé. Na ponta da linha:
"Não conheço a atriz Vera Fischer, pessoalmente, mas sei que é uma grande atriz. Por leituras, sei também que é uma batalhadora, não importando, agora, os caminhos que percorreu para chegar aonde chegou. O que quero é protestar contra esse linchamento moral a que está sendo submetida. Ela e, de tabela, seus filhos, personagens inocentes dessa sua tragédia pessoal. Sou uma veterana e combatente jornalista, mas, neste exato momento, tenho vergonha de sê-lo. Com algumas pouquíssimas exceções, estamos faltando com o mais elementar senso ético, estamos brigando com a informação, estamos, levianamente, criando situações que a desmoralizam e a desestruturam emocionalmente. Estamos no limiar da covardia, pura e simples. (...) Vera Fischer droga-se? Não é só Ipanema que brilha à noite. Algumas de nossas redações também. Sabemos disso. Embriaga-se? Quantos companheiros já perdemos ou estamos em vias de, roubados de nosso convívio pelo alcoolismo? (...) A cobertura da tragédia pessoal de Vera Fischer enche os bons profissionais de vergonha e é um exemplo do que não se deve fazer num jornalismo sério, ético, combativo. Não tenho procuração de ninguém, mas quero pedir desculpas à atriz pelo que estamos contribuindo para que se desestruture ainda mais. Jornalismo está muito distante disso. (...)"

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