São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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Arauto da modernidade, Autuori busca seu 1º título

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Em junho, torcedores de clubes rivais do Botafogo provocavam os botafoguenses com uma pergunta irônica: "Quem é Paulo Autuori?" Poucos sabiam responder sobre o novo técnico da equipe.
Hoje, no Pacaembu, o carioca Autuori busca seu primeiro título como treinador, na primeira competição em que dirige um time brasileiro, depois dos oito anos iniciais da carreira, em Portugal.
Foi uma ascensão meteórica, em seis meses. Autuori, 39, montou a equipe com melhor campanha até agora no Brasileiro -50 pontos contra 49 do Santos.
É a que menos sofreu gols. Só o Santos marcou mais. Tem o artilheiro do torneio, Túlio, 22 gols.
Com um dos menores salários de técnico entre os 24 clubes da competição (cerca de R$ 15 mil mensais), Autuori pode estar fazendo hoje sua despedida do Botafogo -e do país.
Desde a semana retrasada, está no Rio Antônio Oliveira, emissário do Benfica. O mais popular clube português quer o técnico do Botafogo.
O país europeu que mais radicalmente convive com a contradição entre contemporaneidade e tradição quer a modernidade representada por Paulo Autuori.
Ele defende a introdução no esporte de métodos de modernização utilizados habitualmente em empresas. "A criatividade é um fator que deve pesar a favor dos brasileiros. A improvisação aqui ainda é grande", afirma.
Sereno depois da vitória de 2 a 1 sobre o Santos, no Maracanã, ele negou frustração com o placar. "Não estou alegre, nem triste. A alegria virá no Pacaembu, quando formos campeões."
*
Folha - O senhor chegou ao Botafogo quase como um anônimo, desacreditado. Cabralzinho assumiu o Santos quando poucos apostavam no time. A presença na final é um triunfo dos técnicos, em particular?
Paulo Autuori - Vou repetir agora o que digo desde o início. No Botafogo, o protagonismo é dos jogadores, não meu. Não quero rótulos para mim.
Folha - Embora o discurso negue, ficou evidente após o jogo de quarta-feira que a equipe considerou pequena a diferença de um gol. Como evitar que o Botafogo seja hoje o Fluminense de domingo passado?
Autuori - Nós vamos ao Pacaembu conquistar o título. Só porque o Fluminense foi goleado nós também vamos ser? É inoportuna a comparação.
Folha - Por quê?
Autuori - Porque fora de casa nós vamos muito bem. Ganhamos do Goiás com o Serra Dourada cheio. Empatamos com o Cruzeiro no Mineirão, nas semifinais. Fizemos um belo jogo com o Palmeiras, apesar da derrota.
Folha - Os santistas estavam mais satisfeitos com a derrota por 2 a 1 do que os botafoguenses com a vitória. O senhor espera um Santos superofensivo?
Autuori - O Santos acha que vai ganhar em São Paulo. Jogou suas fichas e seus dados. Agora vamos ver quem tem mais poder. Nunca houve euforia no Botafogo. Haverá hoje, com o título. Mas estranhei a atitude do Santos.
Folha - Por quê?
Autuori - Estou acostumado com os campeonatos europeus, quando às vezes um gol fora de casa vale por dois. Mas nunca tive notícia de um time comemorar derrota como o Santos. É sinal de que eles confiam no taco deles. Mas nós confiamos no nosso.
Folha - O Botafogo sofreu o gol do Santos por desatenção na saída de bola. Como evitar hoje o nervosismo de quarta-feira?
Autuori - São situações normais de jogo que temos que saber dimensionar. No Botafogo há a liberdade de todos poderem errar sem serem crucificados.
Folha - Quando teve a vantagem de dois empates, o Santos perdeu nas semifinais e nas finais. Como é ter a vantagem do empate hoje?
Autuori - Se entrarmos para empatar, perderemos. Mas não vou esquecer que o empate nos dá o título.
Folha - Giovanni não foi no Maracanã o jogador brilhante da goleada contra o Fluminense. Qual o impacto psicológico disso nos jogadores botafoguenses?
Autuori - Acabou esse negócio em torno do Giovanni. Ele é um belo jogador, Mas, como eu falara, o Santos tem outros ótimos jogadores.
Folha - Na primeira partida das finais, Beto jogou melhor do que até então e Iranildo fracassou quando entrou no segundo tempo. O que aconteceu?
Autuori - É preciso voltar atrás e vermos o que aconteceu com Beto, seus problemas. Beto cresceu agora e tem uma importância tática fundamental. Com ele, nós vamos ser campeões.

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