São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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História de uma discórdia

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Oriente Médio é um tabuleiro estimulante porque o xadrez nele executado atravessa hoje uma sensível transformação em suas regras políticas. É basicamente disso que tratam Jayme Brener e Claudio Camargo, em "Guerra e Paz no Oriente Médio", a ser lançado amanhã pela Editora Contexto.
O livro possui duas utilidades fundamentais: rememoriza 47 anos de história regional para os já iniciados e, para os que têm uma idéia apenas vaga da passagem do longo período de beligerância para o atual processo de paz, expõe de forma didática os múltiplos ingredientes do sangrento imbróglio entre árabes e judeus.
Outro atributo do curto texto de 104 páginas está num apartidarismo raro quando se trata de uma região em que os dois lados (ou mais) em conflito mobilizaram argumentos respeitáveis que hábeis polemistas foram capazes de expor.
Com isso, Brener e Camargo escapam ao maniqueísmo simplificador, que hoje, aliás, perdeu historicamente o sentido, mesmo porque a paz entre os supostos bons e os supostos maus são um curto-circuito narrativo que deixa sem inteligibilidade qualquer visão moralmente bipolarizada.
O livro é aberto com os dois tiros disparados na noite de 4 de novembro último, pelo extremista judeu Yigal Amir, contra o primeiro-ministro Itzhak Rabin.
Algo de extrema importância, argumentam os autores, porque de um lado expunha de forma traumática a divisão interna na sociedade israelense, e, de outro lado, adubava o caldo de cultura necessário para que os partidários da paz em Israel sentissem maior afinidade com os também partidários da paz no mundo árabe, e um paralelo sentimento de rejeição dos israelenses partidários da beligerância.
Essa quebra de um consenso interno vinha no entanto de bem mais tempo. Começou com a ocupação por Israel do sul do Líbano, em 1982, e com o genocídio praticado por milícias cristãs -com a tácita retaguarda de tropas israelenses- nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila.
Prosseguiu naquele mesmo ano, quando, em meio a uma passeata dos israelenses do Paz Agora, uma granada lançada por um extremista judeu matou um outro judeu. Por sua vez, a intifada fez com que ruísse de vez a idéia de que os israelenses eram o pequeno e heróico Davi, habituado a derrotar o gigante Golias.
No campo árabe, e a história também é longa, há como momentos fundamentais o final da Guerra Fria, que neutralizou no Oriente Médio o eixo de conflitos entre as superpotências, a Guerra do Golfo que colocou Israel e a Síria implicitamente no mesmo campo de adversários do Iraque, e, por fim, o gradativo enfraquecimento da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e a consequente vontade de negociar como alternativa política.

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