São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 1995
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Um herói nacional para estrelar novela do ringue

MORAES EGGERS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O "Ultimate Fighting Championship", uma espécie de mundial da porrada e do vale-tudo que o Sportv apresenta aos sábados e domingos, à 0h, exige uma boa preparação física até mesmo para os "atletas do sofá". Adrenalina, falta de fôlego e taquicardia se confundem à visão de socos, cotoveladas, chutes e sangue. Muito sangue.
"Revanche dos Guerreiros", que poderia ser facilmente associado a alguma chorosa novela mexicana, foi o nome dado ao quarto campeonato da pancadaria, exibido no último final de semana, com nível de superprodução televisiva norte-americana.
Ayrton Senna morreu e, com ele, muitas das possibilidades de vitórias brasileiras no exterior que tanto animavam os torcedores. Emerson Fittipaldi e Raul Boesel terão equipes exclusivas na Fórmula Indy em 96. Barrichello tenta melhorar a imagem da F-1. Por enquanto, são só expectativas.
Longe do Rio de Janeiro e de todos os brasileiros amantes das conquistas verde-amarelas, o lutador carioca Royce Gracie simboliza o verdadeiro herói nacional desconhecido. O mocinho que enfrenta e derrota adversários gigantes na arena sem despentear o cabelo ou amassar o quimono.
Nos quatro campeonatos dessa competição, que reúnem estilos dos mais variados, como sumô, tae kwon do, muay thai e shootfighting, e os melhores mestres de artes marciais de todo o mundo, Royce fez valer a tradição de quase 70 anos de invencibilidade do jiu-jitsu brasileiro dos Gracie. O campeão mundial de jiu-jitsu venceu três vezes as séries de lutas em que só não é permitido enfiar o dedo nos olhos, morder ou beliscar. O resto pode.
Royce resgata o orgulho nacional ao apresentar uma técnica de luta primorosa, vencendo um por um os combates sem limite de tempo disputados em uma arena octogonal cercada por grades de arame de 1,5 m de altura. Por ser raro, é sempre divertido ver locutores e comentaristas de TV norte-americanos obrigados a jogar a toalha para um brasileiro, repetindo eufórica e incansavelmente: "Royyyce Gracie, the chaaaaampion!"

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