São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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Governo monta operação para abafar crise

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro Malan (Fazenda) foi destacado para ir à TV e fazer elogios a ACM e Luís Eduardo Magalhães
O governo montou uma espécie de "operação abafa" para acabar com a crise no PFL por causa da pasta cor-de-rosa. O objetivo é retomar o bom relacionamento entre o presidente Fernando Henrique e Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), presidente da Câmara.
O principal sinal da operação foi a entrevista dada sábado à noite ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan. O ministro fez elogios a Luís Eduardo e ao seu pai, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Ambos fazem parte da lista de políticos que teriam recebido dinheiro do Banco Econômico e da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) na campanha eleitoral de 1990. Além deles, mais 23 candidatos políticos teriam sido beneficiados com recursos do banco baiano.
A pasta cor-de-rosa ameaçou pôr fogo na base de apoio do governo. Luís Eduardo se queixou do tratamento recebido de Fernando Henrique e sinalizou que poderia reduzir seu empenho nas votações da Câmara de matérias de interesse do governo.
O governo temeu a crise e tenta agora contorná-la. A avaliação de líderes do governo é de que a orientação para os elogios de Malan partiu de FHC. O presidente interino Marco Maciel também entrou na "operação abafa".
Entre sexta-feira e sábado, Maciel se reuniu pelo menos duas vezes com o ministro Pedro Malan.
Nessas conversas definiu-se a ida de Malan à TV para dar a entrevista em que tentou minimizar os atritos com Antônio Carlos Magalhães e Luís Eduardo, além do presidente do Congresso, senador José Sarney.
Ontem, por meio de sua assessoria, Maciel disse que "os fatos começam a tomar seu curso normal, o que confirma não haver crise". Segundo ele, isso demonstra que ele e o presidente Fernando Henrique estão "afinados".
O presidente interino reconhece que ocorreram "problemas" na base de apoio do governo, mas diz que "são da natureza do regime democrático, pois a democracia pressupõe o debate e a discussão".
Em São Paulo, o líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), disse que a entrevista de Malan "restabelece a confiança e o diálogo" entre o governo e sua base no Congresso. Santos diz que o bom relacionamento entre FHC e Luís Eduardo é fundamental para a continuidade das reformas.
Para Santos, a entrevista foi fundamental para acabar a crise que ameaçava afastar o presidente da Câmara de Fernando Henrique. Para ele, o pefelista é o principal "aliado" de FHC no Congresso.
"A entrevista foi suficiente para superar a crise. Era isso que o Luís Eduardo esperava", afirmou o líder do governo. O presidente da Câmara aguarda agora a volta do presidente para uma conversa pessoal. Apesar do clima ainda tenso, ambos devem voltar ao bom relacionamento que tinham antes.
A "operação abafa" também teve a participação direta do presidente. No último sábado, na China, ele telefonou para Luís Eduardo. Depois, negou que a crise da pasta ameace seu governo.
"Isso é coisa do passado: nada tem a ver com o meu governo, nem pode levar a fazer juízo de valor contra as pessoas", disse. FHC chamou a denúncia de fato "rotineiro".

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