São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 1995
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FHC condena ataques à equipe econômica

MARTA SALOMON
ENVIADA ESPECIAL A KUALA LUMPUR (MALÁSIA)

O presidente Fernando Henrique Cardoso condenou ontem o que classificou de 'tiroteio" contra o atual comando da economia e declarou que não pretende mudar o rumo da política econômica.
Apesar da defesa de seus assessores, o presidente voltou a investir contra a vaidade pessoal de sua equipe. E disse que não vai tolerar "tiroteio" interno no governo. "Eu acho isso ridículo e não vou dar cobertura", reiterou FHC.
O presidente disse que não muda a política econômica, mesmo com tiroteio interno ou externo, porque está convencido de que não há erros na sua condução. "A inflação está lá embaixo, as reservas lá em cima e o povo está comendo mais", avaliou.
Fernando Henrique apelou para o exemplo de estabilidade da Malásia, onde acabara de chegar para uma visita de dois dias. Mas também não deu nenhuma garantia de que os atuais integrantes da equipe são insubstituíveis.
"Imexível, nunca nada é: o problema do Brasil é que você passa o tempo todo fazendo tiro ao alvo", disse o presidente.
"Aqui na Malásia, o primeiro-ministro está no poder há 14 anos e você consegue fazer as coisas", observou.
E insistiu: "Eu não vou mudar a linha (da política econômica) porque ela está melhorando o país; o resto é tiroteio", declarou Fernando Henrique.
O presidente não admitiu nem mesmo a saída do ministro do Planejamento, José Serra, para disputar a Prefeitura de São Paulo no próximo ano. "Ele não quer", resumiu o presidente.
Alvo de críticas por parte do PFL, o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, também fica no cargo, afirmou. Mas o diretor de Normas, Cláudio Mausch, poderá ser demitido, junto com o interventor do Banco Econômico, Francisco Flávio Barbosa.
O presidente apontou os dois diretores como os responsáveis pela guarda da chamada pasta cor-de-rosa, com o registro de doações eleitorais do Econômico em 1990, cujo vazamento provocou uma crise política do PFL com o governo federal.
"Não estou dizendo que eles tenham entregue a pasta. Mas daí não escapa: ou se descobre como houve o vazamento ou os dois são responsáveis", disse Fernando Henrique, levantando a hipótese de que tenha sido o banqueiro Ângelo Calmon de Sá o autor do vazamento.
Privatização
O presidente disse ignorar pressões por parte dos políticos do PFL para que entregue uma parcela do comando da economia ao partido. E ironizou as críticas que os pefelistas fazem contra o ritmo do processo de privatização. Também nesse aspecto, o presidente considera acertado o comportamento do governo.
"A privatização está entregue ao PFL: energia elétrica, petróleo, tudo é no ministério do Raimundo Britto", afirmou.
Em seguida, o presidente tratou de explicar sua declaração: "Eu estava querendo dizer que, como as críticas em geral vêm do PFL, é uma crítica de quem não está se dando conta", disse.
Fernando Henrique atribuiu ao vazamento da pasta cor-de-rosa a mais recente onda de expectativa por uma reforma ministerial. E disse estar convencido de que a crise está sob controle. "É uma questão de esclarecer, conversar".
Luís Eduardo
Na conversa com o presidente da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo Magalhães (BA), por exemplo, o presidente acredita tê-lo demovido da irritação contra o vazamento da pasta cor-de-rosa. "Ele é racional: em dois minutos de conversa, aquilo que parecia uma tempestade, vira uma coisa normal", declarou.
Sobre as sugestões de que deveria nomear alguém para ser o coordenador político de seu governo, FHC declarou que não tem como delegar essas funções a ninguém, embora já tenha tentado isso anteriormente: "Qualquer pessoa que eu tento viabilizar, vem uma reação, não passa nada".
O presidente argumenta ainda que a indicação de um coordenador político é uma tarefa complicada porque sua base de sustentação no Congresso Nacional é formada por sete partidos políticos. Por isso, a indicação de um coordenador de qualquer um dos partidos cria desconfiança nos demais, explicou FHC.

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