São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Ainda a lista falsa

JANIO DE FREITAS

A explicação dada pelo Ministério da Administração para a falsidade da sua lista de "marajás é tão falsa quanto a própria lista. A atribuição irresponsável de altos vencimentos a servidores que não os têm, caracterizando-os publicamente como apaniguados, não se deveu a "culpa do programa de computador feito pelo Serpro. A lista divulgada, e sobre a qual a secretária-executiva do ministério, Cláudia Costin, falou aos jornais quando da divulgação, continha colunas com "órgão/nome do servidor/situação/cargo ou emprego/remuneração bruta. Nas colunas "situação e "cargo ou emprego, a cada nome seguiam-se, explicitamente, as condições que compunham a remuneração bruta: por exemplo, "ativo permanente como "professor 3º grau e "aposentado como "procurador (caso de Willis Santiago Guerra, dado como terceiro maior "marajá do serviço público, com a indevida soma de vencimentos por trabalho atual e aposentadoria).
Foi com todo esse detalhamento que a lista passou pela cúpula do ministério (aliás, secretaria). Logo, sem deixar a possibilidade de que alguém ali, a começar do secretário dito ministro Bresser Pereira, deixasse de notar a presença de aposentadorias no total da remuneração bruta. Numerosos casos chegam ao cúmulo de que os supostos vencimentos de "marajá são compostos só por aposentadorias, ou seja, o "marajá nem é mais servidor público. Em outros casos, o que faz crescer a remuneração bruta é um cargo em comissão dado ou mantido pelo atual governo.
Esse caso dos supostos "marajás pode parecer irrelevante. Não é, porém. Foram mais de 11 mil pessoas expostas a danos morais para que o governo obtivesse uma repercussão favorável às medidas que pretende contra o funcionalismo civil. Não podia haver recurso de maior baixeza -e praticada em nome da moralização do serviço público.
Durante todo o ano, Bresser Pereira ameaçou, se desdisse, tentou impor, recuou, cedeu, enrolou-se, para de tudo isso resultar absolutamente nada de positivo. A falsificação não foi só da lista. E custo dela, ao longo de todo um ano, jamais será recuperado. Não o seria nem com todo o dinheiro e com todos os direitos que Bresser Pereira sonha retirar do funcionalismo, sem se ocupar de qualquer coisa que se aproximasse da tão necessária reforma administrativa.

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