São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Diretoria do banco não quer ser bode expiatório

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O ambiente na diretoria do Banco Central, que já não era confortável, tornou-se pior nos últimos dias. Cresce a sensação de que o BC, ou pelo menos algum diretor, será chamado ao papel de bode expiatório, para acalmar o PFL. E ninguém no BC acha que merece esse papel.
Como não querem complicar a situação, membros da equipe econômica resolveram calar a boca e esperar a volta do presidente Fernando Henrique Cardoso. A idéia é saber pessoalmente de FHC quais são as suas intenções.
Hoje, há duas fontes de pressão do PFL sobre o Banco Central. A primeira refere-se à pasta cor-de-rosa. O PFL achava que um ou mais diretores do BC haviam vazado o documento.
Era complicado para o BC, mas não muito. Até que o próprio FHC apontou a possibilidade de responsabilizar um diretor do BC, Cláudio Mauch, e o interventor no Econômico, Francisco Flávio Barbosa, por não terem sabido guardar o documento.
Decapitar o interventor não traria constrangimento para a equipe econômica. Com Cláudio Mauch, a história é diferente, pois ele é o diretor mais ligado ao presidente do BC, Gustavo Loyola. Além disso, a eventual demissão quebraria a confiança que os membros da equipe econômica têm em FHC.
Isso porque, no BC e no Ministério da Fazenda, o pessoal jura que o vazamento não partiu do Banco Central. E, se é assim, a demissão do diretor seria claramente um preço pago ao PFL, uma cabeça entregue na bandeja.
Na equipe econômica, acredita-se que a mais provável fonte do vazamento é o próprio dono do Econômico, Ângelo Calmon de Sá, que tem interesse na confusão.
A outra fonte de pressão do PFL sobre o BC está no caso Econômico. O PFL baiano praticamente endossou a proposta do Banco Excel para a compra do Econômico. Só que, para o BC, a proposta é boa, mas ainda está muito cara.
Ou seja, o BC está achando elevado o empréstimo solicitado pelo Excel e quer limitá-lo a R$ 3 bilhões, que é mais ou menos quanto o Econômico deve ao BC.
A avaliação no BC é que o acerto com o Excel pode sair, mas com negociação. E não na rapidez reclamada pelo PFL.
Se o presidente forçar o fechamento rápido do negócio, resolverá o problema com o partido aliado, mas criará outro com a equipe econômica.
Claro que sempre dá para trocar diretores do BC, mas seria a segunda mudança na presidência do banco em menos de um ano.
Em resumo, FHC tem duas pendências ligadas entre si. De um lado, precisa acalmar o PFL, que o apóia na votação das reformas. Mas de outro, não menos importante, precisa dar força ao BC.
Ocorre que o BC está para tomar uma série de medidas graves e impopulares, porque envolvem gasto de dinheiro público, nos casos Banespa, Econômico e Nacional. Um BC enfraquecido e humilhado politicamente não teria base para isso. E tanto as reformas quanto um BC forte são essenciais para a continuidade do Plano Real, o grande eleitor de FHC.

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