São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Planalto e BC negociam mudança com cautela

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto e o Banco Central terão de negociar uma fórmula para que as mudanças na diretoria do BC, dadas como inevitáveis, gerem o menor prejuízo possível para a credibilidade do governo e a imagem dos dirigentes substituídos.
Segundo a avaliação obtida pela Folha ontem, há três obstáculos à saída de diretores e do próprio presidente do BC, Gustavo Loyola.
O primeiro e mais importante é que o afastamento dos dirigentes agora seria interpretado, nos mercados interno e externo, como uma demonstração de fraqueza do governo Fernando Henrique Cardoso.
Por esse raciocínio, ficaria a imagem de que a autonomia da equipe econômica, responsável pela condução do Plano Real, não resiste às pressões e aos interesses da base política de FHC.
Em segundo lugar, há grande dificuldade em encontrar substitutos, em especial para os cargos de presidente e diretor de Fiscalização -o responsável pelas intervenções no setor bancário- do Banco Central.
Por fim, a própria diretoria do BC, mesmo já manifestando nos bastidores o desejo de deixar o governo, avalia que sair agora significaria assumir a culpa pelo vazamento da pasta rosa contendo dados sobre doações do Banco Econômico a campanhas eleitorais.
O diretor de Normas e Fiscalização, Cláudio Mauch, é o caso mais delicado. Principal alvo dos ataques de políticos governistas, não esconde dos interlocutores o desejo de deixar o BC. Mas um pedido de demissão seu, ao menos neste momento, seria acompanhado pelos demais diretores.
Tensão
As declarações de anteontem de FHC, admitindo mudanças na diretoria e citando o nome de Mauch, foram interpretadas como um ataque ao BC e produziram um dia tenso na sede do órgão ontem.
A maior preocupação foi com o andamento das negociações para a venda do Banco Econômico, principal motivo das pressões do PFL e que pode atrasar porque a primeira proposta do Banco Excel não foi aceita.
O interventor do BC no Econômico, Francisco Flávio Barbosa, também citado por FHC, mandou sua assessoria dizer que não daria declarações. Ele está desgastado com a própria cúpula do BC por defender a proposta do Excel.
Também houve especulação sobre o futuro de Mauch. Considera-se provável que ele volte a ocupar um cargo no Banco Meridional, instituição federal a ser privatizada em 96.
Mauch foi indicado para o BC na gestão Itamar Franco com o aval do senador Pedro Simon (PMDB-RS), então líder do governo, que o conhecia por seu trabalho no Meridional. A volta de Mauch seria bem recebida pela bancada gaúcha.
Sobre Loyola, avalia-se que provavelmente deixará o governo. Voltaria à iniciativa privada, mas não à MCM Consultores, empresa da qual era sócio até ser assumir o comando do Banco Central pela segunda vez em junho último.

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