São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ingleses inventaram o pitoresco, diz curadora

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

Contrapartida da exposição "O Brasil dos Viajantes", "O Brasil Visto pelos Olhos dos Europeus" foi pensada para conquistar de pronto a atenção do público inglês.
"Essa exposição é mais sintética e tem o objetivo de fazer o público europeu pensar sobre seu próprio imaginário e suas projeções diante da paisagem brasileira", diz Ana Maria Belluzzo, curadora das duas mostras, a brasileira e a inglesa.
Belluzzo chega a Londres amanhã para coordenar a montagem da mostra. Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida por telefone à Folha de sua casa em São Paulo.
*
Folha - Em que a exposição "O Brasil Visto pelos Olhos dos Europeus" diferencia-se da mostra "O Brasil dos Viajantes"?
Ana Maria Belluzzo - "O Brasil dos Viajantes" era mais exaustiva. Além do aspecto de mostrar obras que revelassem o imaginário do europeu em relação ao Brasil, ela tinha um rigor em relação à documentação de uma paisagem que, de alguma forma, havia se transformado.
Para o brasileiro, isso tinha enorme sabor: rever paisagens de lugares que sabemos quais são e que, além de mostrar a visão européia, também revelam o efeito do tempo sobre esses lugares. Concebi aquela exposição como um momento de resgate para o público brasileiro.
Já a exposição de Londres pretende conversar com o público inglês. Não posso pressupor que exista uma intimidade com os assuntos brasileiros. Então trata-se de mostrar para os ingleses as próprias fantasias deles. O assunto que mais o aproxima da paisagem brasileira é a valorização estética engendrada na própria Europa, com a qual ele tem intimidade.
Folha - Em que isso modifica a exposição?
Belluzzo - Altera a articulação do conjunto de obras. Essa seleção é mais qualitativa, busca maior síntese. Selecionamos obras em coleções brasileiras e inglesas que ajudassem o europeu a pensar sobre seu próprio imaginário, seus sonhos, suas projeções na paisagem americana. Não há ênfase tão grande no aspecto documental.
Folha - Houve uma preocupação especial em reunir artistas ingleses?
Belluzzo - Existiu a preocupação de equilibrar a presença européia e de considerar que estamos falando com o público inglês. Até aspectos mais curiosos foram pensados. Os ingleses foram desde o século 17 os inventores das práticas do pitoresco.
Eles são apaixonados por jardins, são paisagistas. Mais do que obras de artistas ingleses, há uma consideração de pontos de vista europeus fundados pelos ingleses. Há a preocupação de representar as tendências artísticas criadas pelos ingleses.
Folha - Qual é a importância de mostrar este trabalho aqui?
Belluzzo - É importante projetar a presença cultural do Brasil no exterior. Nós ainda somos um país quase tão desconhecido quanto aquele para o qual iam os viajantes no século 17. E esse projeto pensa exatamente a imagem do Brasil no estrangeiro. Permite, portanto, uma conversa em que eles se reconheçam nas nossas coisas tanto quanto nós nos reconhecemos nas coisas deles.
(OD)

Texto Anterior: Europeus mostram a sua visão sobre Brasil
Próximo Texto: Exposição terá piano e palestras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.