São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Sean Penn amadurece em novo papel de mau

Ator é dirigido por Tim Robbins em 'Dead Man Walking'

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Ser conhecido como "bad boy" pode atrapalhar a carreira de muita gente. No caso do ator norte-americano Sean Penn, 35, a fama de mau só ajudou.
Pelo menos essa é a opinião do próprio Penn, que falou à Folha na semana passada, em Nova York, para divulgar o novo filme em que atua: "Dead Man Walking", que estréia este mês nos Estados Unidos.
"Minha personalidade ajudou, mas não fiz de propósito. A questão é que não gosto de me expor e a mídia adora tipos misteriosos", afirmou Penn.
O ator não confirma nem desmente que teria batido na cantora Madonna enquanto eram casados. Mas garante que a época de brigas e bebedeiras ficou para trás.
A maior prova foi ter comparecido no início de dezembro ao "VH1 Fashion & Music Awards" para entregar o prêmio de mulher mais bem vestida do showbusiness para Madonna.
Penn pode ter amadurecido, mas é difícil acreditar que tenha se livrado das confusões. Como a briga em que se envolveu recentemente e que deixou uma cicatriz em sua sobrancelha esquerda.
Em "Dead Man Walking", Penn interpreta mais uma vez um personagem nada bonzinho. Ele é Matthew Poncelet, condenado à morte por ter matado dois adolescentes no Estado na Louisiana.
Dirigido por Tim Robbins, o filme é baseado em fatos reais e conta a luta da freira Helen Prejean (Susan Sarandon) para mudar a vida Poncelet nas semanas que antecedem sua execução.
Fumando um cigarro atrás do outro (depois de pedir licença, já que era proibido fumar no hotel), Penn falou sobre a família, reclamou sobre a qualidade dos roteiros e do horror que tem de comédias.
*
Folha - Antes de "Dead Man Walking" você disse que preferia dirigir a atuar. Mudou de idéia?
Sean Penn - Não. Abri uma exceção para este filme. Cansei de ser ator porque não havia mais desafios. Estava me sentindo inútil e infeliz. Dirigir é mais estimulante.
Folha - Por que concordou em fazer "Dead Man Walking"?
Penn - Porque sabia que era um papel antipático e difícil de fazer. Poucos atores teriam condições de interpretar Matthew Poncelet e eu era um deles.
Folha - Tim Robbins disse que você recebeu 1/8 do que deveria para trabalhar no filme...
Penn - Bobagem. Não estou precisando tanto de dinheiro assim. Prefiro trabalhar com pessoas inteligentes e ganhar mal do que fazer um filme imbecil e receber uma foturna.
Folha - O que você acha do cinema de hoje?
Penn - Ruim. O problema são os roteiros. Como eu faço para ser um bom ator se os escritores são uma porcaria? Infelizmente, não há mais gente como Tennesse Williams trabalhando em Hollywood.
Folha - Os roteiros são o único problema do cinema?
Penn - Não. Há poucos americanos fazendo bons filmes porque falta coragem. Todos ficam repetindo fórmulas consagradas, fazendo "remakes". Outra coisa que atrapalha é que Hollywood é dominada hoje por pessoas de direita. A direita americana é um saco.
Folha - Você estudou para ser ator e...
Penn - E qual o problema? Não acho que a arte de representar seja uma qualidade que nasça com a pessoa. Talvez para alguns superdotados, mas este não é o meu caso. E na escola, ao contrário do que se diz, se aprende muito.
Folha - Em toda a carreira você só fez uma comédia. Não gosta do gênero?
Penn - Odeio comédias. Elas são o que há de mais repugnante no cinema de hoje. São idiotas, não têm sentido e não me fazem rir. Se for para ficar bobo, prefiro as drogas. Sinceramente, a maior decepção da minha vida será se um de meus filhos decidir ser comediante. Prefiro que ele pinte o cabelo de rosa e vire bailarino.
Folha - Você deverá ser indicado para o Oscar...
Penn - Prefiro não discutir isso. A única coisa de bom que um Oscar poderá trazer à minha carreira é o aumento no cachê. Não tenho fome de prêmios.

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