São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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México exibe Paul Gauguin 'sintetista'

FLAVIO CASTELLOTTI
DA CIDADE DO MÉXICO

Quem vincula automaticamente as telas do pintor francês Paul Gauguin (1848-1903) às paisagens e mulheres taitianas poderá se surpreender com a exposição "Gauguin e a Escola de Pont-Aven", montada no Palácio de Belas Artes da Cidade do México.
A mostra reúne 16 telas de Gauguin, nove de Emile Bernard, 15 de Paul Sérusieur e outras 41 de diversos pintores pertencentes ao movimento sintetista, fundado em 1886 no vilarejo francês de Pont-Aven, Bretanha.
"Trata-se de uma exposição totalmente inédita, que sequer na França foi apresentada", disse à Folha a diretora do museu, Alejandra Peña. No total, são 81 quadros provenientes de 17 diferentes museus da Europa e várias coleções particulares.
A Escola de Pont-Aven, que mais tarde deu origem ao movimento sintetista, sucedeu ao impressionismo e foi a principal precursora do modernismo na França, diz a diretora do museu mexicano.
Foram Gauguin, Bernard, Denis, Sérusieur e seus companheiros de Pont-Aven os primeiros a romper abertamente com a tradição impressionista.
"Eles passaram a analisar visualmente a natureza, deixando de lado os sentimentos", diz Peña.
O resultado foi o que hoje se conhece por "paisagem de memória", ou seja, o pintor realiza apenas um breve rascunho 'in loco' e deixa o restante do trabalho para ser feito em seu ateliê.
Ao distanciar-se da paisagem real, o autor se dá a liberdade para suprimir detalhes, reduzir planos e simplificar cores, daí o nome do movimento: sintetismo.
Trata-se de um método totalmente diferente do aplicado por Van Gogh, Monet e outros mestres impressionistas.
Para Peña, o maior êxito da exposição está na aproximação do público com a fase menos conhecida -e nem por isso menos importante- de Gauguin.
Quando ele abandonou sua promissora carreira de corretor financeiro em Paris, para instalar-se em Pont-Aven e dedicar-se exclusivamente à pintura, ele jamais poderia imaginar que estaria fundando uma nova ideologia artística, relata Peña.
Num primeiro momento, os quadros de Gauguin, Bernard, Denis e outros integrantes do movimento não eram aceitos nos circuitos de arte de Paris.
"Eles realizavam exposições alternativas em cafés", conta Peña.
Foi apenas no início deste século, quando Gauguin já havia se mudado definitivamente para o Taiti, que seus quadros e os de Bernard começaram a obter êxito.
Até hoje existe uma querela entre os seguidores dos dois artistas plásticos acerca de quem teria sido o fundador do movimento.
"Na plástica, Gauguin tinha muito mais experiência, mas Bernard possuía um senso filosófico mais aguçado", diz Peña.
Ela acredita que, sem a combinação de ambas personalidades, não teria sido possível a criação do sintetismo.
"Gauguin foi quem conseguiu transmitir de forma mais plena para os pincéis a ideologia de Bernard e, por isso, tornou-se o grande mestre do sintetismo", diz.
A mostra está atraindo em média 15 mil pessoas por semana, repetindo o sucesso da exposição de Rodin, que esteve anteriormente no Palácio de Belas Artes.
Peña espera um grande número de visitantes, pois essa é a única oportunidade para ter contato com quadros da Escola de Pont-Aven que, em sua maioria, nunca haviam estado na América Latina.

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