São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 1995
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Xerife, precisa-se

A menos de uma semana do Natal, o que se ouve no mundo político-empresarial não é propriamente o alegre bimbalhar dos sinos, próprio da época, mas um surdo e crescente ruído de inquietação.
É inegável que a deterioração do ambiente, em especial o político, acentuou-se com muita força nas últimas semanas. Ainda não contaminou a situação econômica, mas, se não forem adotadas urgentes correções de rumo, a contaminação será inevitável em médio prazo.
Surpreende que tal deterioração esteja ocorrendo sem que haja razões de fundo que a expliquem e justifiquem. As crises que dominam a agenda -do "grampo" nos telefones do então chefe do Cerimonial da Presidência ao vazamento da chamada pasta rosa- são menores se comparadas a episódios que embaraçaram e, no limite, paralisaram governos anteriores. Por isso mesmo, é razoável supor que o surdo ruído de inquietação decorra da percepção, justa ou injusta, de que falta comando ao governo.
Na área econômica, essa percepção é mais antiga e mais fácil de entender. Desde que se anunciaram as nomeações de Pedro Malan para a Fazenda e de José Serra para o Planejamento, sabia-se que havia incompatibilidades, de temperamento e/ou visões políticas, entre eles, o que prenunciava choques.
Agora, tal percepção tornou-se mais e mais disseminada e aguda. Pior: generalizou-se no interior do governo, afetando outros ministérios, a ponto de o próprio presidente ver-se obrigado a criticar o que chamou de "tiroteio"' interno.
Na área política, o fato de o presidente ter assumido o papel de coordenador não parecia grave enquanto as coisas caminhavam relativamente bem. Mas, no momento em que se instala uma crise, grande ou pequena, acusa-se mais fortemente a falta de alguém para o papel, poupando o presidente de miudezas desgastantes.
Convém sempre lembrar que, no início do governo, houve um forte decréscimo na popularidade de FHC, conforme pesquisas do Datafolha, exatamente porque se intuía uma certa ausência de comando. O presidente recuperou-se logo depois, mas, agora, mais do que ausência, percebe-se abulia.
Por isso, é de se esperar que o presidente, ao voltar de sua turnê asiático-européia, emita sinais claros de que o xerife vai reassumir suas funções e pôr fim ao "tiroteio" interno, mesmo que haja vítimas até no primeiro escalão.

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