São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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Presidente da Câmara ataca FHC e governo

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar dos esforços dos últimos dias, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), continua em crise com o governo. Anteontem, durante jantar com jornalistas, ele fez as primeiras críticas públicas a Fernando Henrique Cardoso desde a posse.
Luís Eduardo, considerado o "primeiro aliado" do governo no Congresso, chegou a colocar em dúvida, em duas ocasiões, a autoridade de FHC sobre sua equipe.
"Cometer erro novo é humano, mas cometer erro velho é burrice", disse o presidente da Câmara, sintetizando sua avaliação sobre a repetição dos desgastes que o governo vem impondo ao PFL.
O governo tinha lançado na semana passada uma operação para agradar Luís Eduardo: o ministro Sérgio Motta (Comunicações) almoçou e jantou com o presidente da Câmara, Marco Maciel cercou-o de reverências, Pedro Malan (Fazenda) o elogiou na TV e FHC ligou da China para ele.
O churrasco a jornalistas foi oferecido por Luís Eduardo na residência oficial da presidência da Câmara em Brasília. Durante cerca de quatro horas não fez um único elogio à administração de FHC.
A primeira vez que colocou em dúvida a autoridade de FHC aconteceu quando disse que o PFL não se sentiu atingido com as declarações do presidente (feitas na Malásia) sobre o ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito -afilhado político do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), pai do presidente da Câmara.
FHC disse, na China, que "é muito fácil
falar que tem de privatizar". E completou: "A privatização está entregue ao PFL, energia elétrica, petróleo, é tudo do ministro Raimundo Brito".
A resposta de Luís Eduardo foi acima do tom de FHC. "Não existem núcleos do PFL ou de outros partidos no governo, o governo é um só", disse. "E quem manda no governo é o presidente da República, ou não é?", indagou.
"A verdade é que falta vontade, empenho do governo em privatizar, essa é a verdade", disparou. Segundo ele, o governo primeiro diz que vai criar um Fundo de Privatização, depois afirma que vai pulverizar as ações das estatais nas Bolsas de Valores e não avança.
Ele afirmou que vem fazendo a sua parte. Conseguiu aprovar na Câmara em nove dias o projeto de lei que permitiu a cisão da Light, empresa de energia elétrica. "O Serra demorou mais de cem dias para decidir mandar a lei."
Estavam no jantar, um churrasco servido no jardim da residência, os deputados Benito Gama (PFL-BA), José Carlos Aleluia (PFL-BA) e Ana Júlia (PT-PA).
Luís Eduardo expressou suas críticas sem perder o bom-humor. "Vou parar de engolir pepino e vou comer agora abacaxi", disse, ao servir-se da sobremesa.
Benito olhava para os jornalistas, tentando prever quais seriam as consequências do episódio, mas não fez nenhum comentário. A avaliação pefelista é que a aliança do governo com o partido vai continuar, mas foi quebrada a confiança que existia entre os lados.
A segunda vez que Luís Eduardo questionou a autoridade de FHC perante seu governo foi quando discorreu sobre o assunto predileto dos pefelistas nos últimos meses -o Banco Central.
Ele disse que não perdoa a maneira como vazou para a imprensa o conteúdo da pasta cor-de-rosa, que contém uma listagem das doações feitas pelo Banco Econômico a políticos na campanha de 1990. Os nomes de Luís Eduardo e ACM constam da pasta.
Segundo o presidente da Câmara, o vazamento, ocorrido em partes, dia após dia, foi feito com um único objetivo, o de criar expectativas e tensão. "Não perdôo a maneira como foi vazada", disse.
Neste caso, a intolerância atinge FHC. Para ele, a pasta cor-de-rosa não é "uma questão" do Banco Central, é uma questão da Presidência da República. Segundo o pefelista, só há duas alternativas: ou FHC sabia da existência da pasta e não comunicou a seus aliados, ou não sabia e aí comprovaria que não tem conhecimento do que acontece em seu governo.
Luís Eduardo mostrou no jantar de anteontem que vai mudar de estratégia com relação ao Banco Central, e vai adotar o caminho do pai: cobrar do Banco Central esclarecimentos sobre sua atuação no mercado financeiro, principalmente com relação aos bancos.
"Eu 'ainda' não apóio a CPI do Banco Central, mas acho que a opinião pública merece explicações." O requerimento para instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito foi feito pelo PT. A deputada petista Ana Júlia não perdeu a chance: "Assina, basta você assinar para que a CPI aconteça", disse ela. Luís Eduardo não respondeu, deixando o apelo no ar.

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