São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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Investimento em baixa

ANDRÉ LAHÓZ

O aperto ao crédito promovido pelo governo ao longo do ano, com os depósitos compulsórios e a alta nas taxas de juros, provocou diminuição no consumo. Muito mais importante, porém, é a forte redução no investimento privado ocorrida no período.
Os dados dessazonalizados de produção de bens de capital (excluídos automóveis) do IBGE mostram queda de 34,6% até o mês de outubro. Ou seja, a indústria começou o ano produzindo muito, embalada pelo Plano Real, mas teve que refazer seus planos com a desaceleração da economia.
É certo que a importação de bens de capital (também dessazonalizada) cresceu 26% no período, mas há uma clara estagnação também nas compras externas -apesar do câmbio valorizado- após o mês de março.
Queda na produção de bens de capital indica mudança na expectativa dos empresários. E compromete o crescimento futuro do PIB (Produto Interno Bruto).
A produção de bens de consumo também caiu, mas bem menos que a produção de máquinas. Até outubro, a queda era de 9,3%.
Como se vê, o governo buscou derrubar o consumo, mas terminou por acabar com o investimento. A dúvida é sobre a possibilidade de o investimento ser retomado em 96.
Os dados parciais sobre o desempenho do comércio no Natal mostram que o volume físico das vendas está em um nível bom. Os números são semelhantes aos do ano anterior, sabidamente excepcional em vendas.
O faturamento das lojas, no entanto, é bem menor. Isso se dá tanto pela concorrência crescente, que deprime as margens de lucro, quanto pelo menor valor unitário nas vendas de Natal.
Em termos de produção industrial, vale mais a venda física do que o faturamento do comércio. Ao zerar seu estoque, as lojas elevam suas encomendas para a indústria.
Se de fato houver um desempenho bom nas vendas de fim de ano, 1996 se iniciará com impulso ao aumento da produção (sempre descontando o efeito sazonal) de bens de consumo.
Aliado a isso, o BC deve continuar reduzindo os compulsórios e os juros (que continuam inexplicavelmente elevados), o que gera impacto positivo sobre a demanda.
O resultado sobre a atividade econômica, no entanto, não deve ser fortemente positivo. Pelo contrário: o crescimento do PIB em 96 deve se situar em torno de 3%, pouco acima do crescimento populacional. No primeiro trimestre, haverá mesmo queda do PIB quando a comparação for feita sobre o mesmo período de 95.
Não há nenhum indicador claro de que os investimentos serão retomados. A decisão de investir depende de muitas variáveis. Uma é a taxa de juros, que deve cair, mas continuar elevada em 96. Outra é a expectativa dos empresários quanto ao futuro econômico e político.
Além de reduzir os juros, o governo pode e deve apoiar mais fortemente o investimento privado por meio do BNDES.

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