São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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Scola faz painel frouxo em "O Terraço"

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ettore Scola é um diretor que gosta de se impor limites formais para exibir sua capacidade de expressão dentro deles.
Às vezes, essas balizas aparecem mais naturalmente, como decorrência da própria história narrada: a concentração da ação num único dia, em "Um Dia Muito Especial"; o acompanhamento da viagem dos nobres a Varennes em "Casanova e a Revolução"; o enclausuramento da história numa única casa, em "A Família".
Outras vezes, porém, a moldura dramática e narrativa adotada tem um fundamento totalmente arbitrário e artificioso: é o caso de "O Baile", em que a história da Europa é vista através das danças num salão, sem nenhum diálogo. É o caso também deste "O Terraço" (1979), inédito nos cinemas daqui.
Aqui, trata-se de filmar sucessivamente, de pontos de vista diferentes, o mesmo jantar de um grupo de amigos numa casa romana.
O problema maior do filme está em sua indecisão narrativa. Scola não leva às últimas consequências sua premissa formal, pois a câmera acaba deixando a casa do jantar e os flashbacks proliferam sem nenhum controle.
O diretor acaba se perdendo no mar de assuntos que pretende abordar: crise do comunismo, crise do cinema, crise de valores morais, crise da meia-idade...
Apesar da profusão de pequenas tramas e do elenco estelar, é um filme triste, confuso e desanimado, em que a intenção de fazer um "painel da Itália" do fim dos anos 70 sufoca qualquer vitalidade.
Nos momentos em que Scola quer ser Fellini -por exemplo, na subtrama do jovem diretor que se crê genial em seu "cinema de arte"-, o resultado é constrangedor. Falta-lhe o talento e o espírito livre do mestre. Resta só a superfície: os personagens caricatos, os diálogos absurdos, as caretas.
Nos momentos em que quer ser Resnais -na repetição de cenas, filmadas de pontos de vistas diferentes-, sua falta de rigor é fatal.
Chega a dar pena ver atores excepcionais terem de protagonizar cenas tão frouxas e mal dirigidas. O martírio maior é imposto a Gassman, obrigado a proferir no Parlamento um discurso piegas sobre a política e o amor.
Scola tem uma legião de fãs no Brasil, graças em parte a seus próprios méritos e em parte aos assuntos de que tratam seus filmes e aos formidáveis atores em que estes se sustentam. Correndo o risco de irritar esses fãs, é preciso dizer: cinema é outra coisa.

Vídeo: O Terraço (La Terrazza)
Direção: Ettore Scola
Elenco: Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni, Ugo Tognazzi, Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli
Lançamento: New Line (tel. 011/220-8601)

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