São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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O nome do jogo

A crise entre o governo e o PFL é tão cheia de meandros que exige uma espécie de guia para ser entendida. Tem-se, numa ponta, o PFL sob a acusação de que alguns de seus caciques cometeram uma ilegalidade ou dela se beneficiaram na campanha eleitoral de 90.
Era, então, ilegal receber contribuições de pessoas jurídicas. Quando a irregularidade tornou-se pública, o PFL reagiu de acordo com a máxima de que a melhor defesa é o ataque. Em vez de negar a acusação, acusa o governo de desleal.
Como a pasta rosa, que conteria os documentos probatórios da irregularidade, estava sob guarda de funcionários do governo -mais precisamente do BC-, Luís Eduardo Magalhães aponta o dedo para o governo como um todo e cobra dele o que considera deslealdade.
Para reparar o pecado supostamente cometido pelo governo o partido insinua a necessidade de compensações, que, conforme a tradição brasileira, devem vir na forma de cargos. É esse o nome do jogo. Fica fácil para o próprio leitor aplicar a ele a qualificação que preferir: cinismo, fisiologia, imoralidade ou mera rotina do jogo político.
Do ponto de vista do futuro imediato, mais importante é saber se o governo cede ou não à tática pefelista. Se não ceder, corre o risco de ver inviabilizada a aprovação de suas propostas no Congresso. Mas o PFL, eis um dado que vem sendo esquecido, também corre riscos. Sua ameaça pode não passar de um blefe. Afinal, seus caciques nunca jogaram o jogo político na oposição. Talvez não saibam fazê-lo e, se o governo resolver pagar para ver, podem ser obrigados a recuar.

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