São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Presidente deseja 'feliz 1966'

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois dias após ter chegado de sua viagem de 12 dias à Ásia e Europa, em que passou 58 horas num avião, o presidente Fernando Henrique Cardoso mostrou que não se refez do "jet-lag" -a confusão causada por troca constante de fusos horários e muitas horas de vôo.
Ontem, por duas vezes, ele deu mostras de que ainda estava "ziguezagueante". A primeira gafe ocorreu durante o discurso de final de ano dirigido aos oficiais-generais das Forças Armadas.
Fernando Henrique usou parte do pronunciamento para dizer que o Brasil tem pressa em chegar a um estágio mais avançado e que para isso é preciso concentrar energia e esforços.
Ao final, após retribuir, em seu nome e em nome de Ruth, os votos de Feliz Natal que recebeu dos militares, FHC desejou que "em 1966" (ou seja, 30 anos atrás) "o Brasil possa caminhar mais rápido em direção à concretização de todas as suas potencialidades".
No ano de 1966, o presidente era o general Castelo Branco e o país enfrentava o endurecimento do regime militar. Em fevereiro, Castello Branco editou editou o Ato Institucional nº 3, determinando que a escolha dos governadores de Estado passaria a ser feita por eleições indiretas.
Diversos políticos foram cassados naquele ano. Em junho, foi a vez do governador paulista Adhemar de Barros. Em outubro, Castello cassou seis deputados federais do MDB e determinou o fechamento do Congresso.
Na época, Fernando Henrique estava morando no Chile, no seu auto-exílio, onde lecionava Ciências Sociais e Sociologia do Desenvolvimento.
A segunda gafe de Fernando Henrique ocorreu ao final da cerimônia no Clube Naval, após almoço em que foi servido salada de camarão, lagosta, aipo, pepino e maçã, além de filé a moda náutica -em forma de rosbife recheado com queijos nobres e legumes, acompanhado por vinho nacional e champanhe francês.
Após o cumprimento do ministro da Marinha -o anfitrião da solenidade-, o presidente deveria aguardar o toque de despedida antes de entrar no carro, mas acabou invertendo tudo.
Primeiro Fernando Henrique entrou no carro, depois voltou, apertou a mão do ministro e só aí ouviu os sete assobios do apito naval, no "cerimonial de portaló" (cerimônia típica da Marinha).
Anteontem, Fernando Henrique havia pedido desculpas a um grupo de reitores porque estava "um pouco ziguezagueante" por causa das mudanças de horário, de clima "e tudo o mais".

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