São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Funcionário do banco confirma sonegação

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chefe da Divisão Financeira do Banco Econômico, Francisco Martins, confirmou ontem que as notas fiscais com doações a políticos em 1990 foram incluídas na contabilidade da instituição para abatimento do Imposto de Renda.
Essa prática é apontada como crime de sonegação fiscal pelos subprocuradores da 5ª Câmara da Procuradoria Geral da República que investigam a pasta cor-de-rosa do Econômico, que contém uma série de documentos e várias listas com doações a políticos.
Segundo Martins, todas as doações feitas pelo Econômico eram acobertadas por notas fiscais emitidas em nome do banco e arquivadas em sua própria contabilidade.
Isso incluía até as notas fiscais relativas à contratação de mágicos e compra de bolos em festas para crianças carentes assistidas pela irmã Dulce, religiosa da Bahia.
Martins é uma das 70 pessoas que serão chamadas pela PF (Polícia Federal) para depor no inquérito que vai investigar os envolvidos com a pasta rosa. O nome dele consta do ofício enviado pela subprocuradora Ela Castilho ao diretor da PF, Vicente Chelotti.
"Eu recebia apenas ordens para pagar as notas fiscais. As ordens vinham da presidência. Encaminhava tudo para a central de pagamentos, que faz parte do setor de contabilidade do Econômico", disse Martins.
A lista da 5ª Câmara é encabeçada por Ângelo Calmon de Sá, ex-presidente do Econômico. Calmon de Sá não foi encontrado ontem em Salvador. A secretária Doralice Martins disse que o ex-presidente não tem interesse em falar com a imprensa.
Segundo os documentos contidos na pasta rosa, Martins autorizou o pagamento de nove notas fiscais. Entre elas estão uma da TV Bahia, US$ 147,3 mil em valores corrigidos, considerada superfaturada, e outra da Gráfica Itacuruba (PE). Essa última é comprovadamente falsa, pois a empresa fechou em 1988.
"No caso da TV Bahia, acho que não foi doação, já que há muito tempo o Econômico patrocinava um programa", disse Martins.
Com relação às notas falsas da Itacuruba, a 5ª Câmara recomendou à Polícia Federal que seja também ouvido o empresário Artur da Silva Valente, da Sena Engenharia (PE).
O nome dele aparece como remetente de uma das notas falsas da gráfica enviadas ao Econômico. A Folha telefonou duas vezes para Valente, mas não obteve resposta.

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