São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Pacientes fogem de médicos no fim do ano

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Como as frutas de estação, certas doenças e mal-estares aumentam ou diminuem de acordo com os períodos do ano. Para muita gente, as festas de Natal e Ano Novo têm a virtude de empurrar para mais tarde enxaquecas, dores nas costas e até cólicas renais.
A existência de uma sazonalidade na saúde é atestada por números e explicada por médicos e psicanalistas.
No pronto-socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo -o maior portão de emergência do país- a procura cai pela metade nos dias que antecedem o Natal e o Ano Novo. Da média de mil doentes atendidos diariamente, aparecem menos de 500.
A queda vale também para os fins-de-semana e vésperas de festas como Carnaval e Semana Santa."Essa sazonalidade ocorre por conta dos casos que não têm urgência", diz Irineu Velasco, diretor clínico do HC. Casos, aliás, que deveriam ser atendidos pelo conjunto da rede pública, não no pronto-socorro.
Segundo Velasco, "há certamente um fator psicológico" nessa sazonalidade. "Para muita gente, fazer compras passa a ser mais importante que o incômodo de determinadas dores", afirma.
As prioridades também mudam nos consultórios médicos. "Uma parte das pessoas -em geral aquelas que já têm algum tipo de doença- procura o médico para uma avaliação clínica no início de dezembro", diz Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Esses pacientes querem saber se podem viajar ou festejar tranquilos.
Outra parte das pessoas, em geral os mais jovens, só procura o médico depois das festas e das viagens. "É quando procuram saber se ficou algum tipo de sequela", afirma Lopes.
No Laboratório Fleury, o número de exames mensais cai de 40 mil para 35 mil em dezembro. Em março e outubro, saltam para 45 mil. "Em março, as pessoas estão voltando de férias com maior número de problema de pele e distúrbios gastrointestinais", diz Aparecido Pereira, diretor-superintendente do laboratório.
Outubro é o mês no qual as pessoas tentam realizar os projetos postergados ao longo do ano, diz o médico. "Fazem os exames que não fizeram antes, já pensando nas festas que virão", afirma Pereira.
Nos serviços públicos de saúde, o número de testes de HIV cai a menos de um terço se comparado com o período pós-Carnaval, quando a procura bate recordes.
A Central Sorológica Alternativa do Hospital Emílio Ribas parou de fazer exames anti-Aids no dia 10 e só retomará no dia 2 de janeiro. "As pessoas não querem ter notícias ruins nessa época do ano", explicam os médicos.

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