São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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47% dos gays não usam preservativos

Constatação é de pesquisa em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário do que se imaginava, o uso da camisinha ainda não é prática adotada por grande parte dos homossexuais e bissexuais de São Paulo.
Levantamento feito pelo Projeto Bela Vista ao longo de seis meses revelou que quase a metade dos pesquisados (46,9%) manteve relações desprotegidas no período.
Pelo menos um pegou Aids, o que significa incidência de 0,9%. Estudos internacionais mostram que entre 3% e 5% dos adultos se contaminam em um ano.
O projeto pretende fazer uma espécie de história social da epidemia. Ou seja, procura saber quantas pessoas pegam o vírus da Aids num certo período e de que forma elas se contaminam.
"Conhecer o comportamento da epidemia no país faz parte dos estudos preparatórios para testes de futuras vacinas", diz o sociólogo Alexandre Grangeiro, 30, um dos pesquisadores do projeto.
Três grupos de 500 "homens que fazem sexo com homens" serão acompanhados ao longo de três anos em São Paulo, Rio e Belo Horizonte. O projeto de São Paulo começou em agosto de 94. Tem hoje 301 participantes. Os voluntários, todos soronegativos, passam por entrevistas e exames sorológicos a cada seis meses.
Os 113 que começaram a ser acompanhados em 94 já passaram pela segunda entrevista. Foi com base nas informações colhidas junto a eles que o projeto concluiu que a camisinha não vem sendo usada como deveria.
O que preocupa os pesquisadores é que o grupo acompanhado tem boa escolaridade e vem sendo informado da importância de se fazer sexo protegido e reduzir o número de parceiros.
Segundo Grangeiro, houve redução do número médio de parceiros no período, caindo de 9,7 para 7,5. Para ele, a queda aumentou a confiança dos homens, levando-os a não usar camisinha.
Foi constatado que bissexuais usam menos camisinha ao se relacionar com mulheres do que com homens. "Prevalece a crença de que o risco é menor quando se relacionam com mulheres."
O estudo tem o apoio das secretarias estadual e municipal da Saúde, Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde.

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