São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Concurso traz 44% de mulheres e juiz chinês

ANDRÉ FONTENELLE
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova geração de magistrados paulistas é bem diferente das antigas -dominadas, em geral, por homens de famílias da elite.
A lista dos juízes que tomam posse este mês no Estado, aprovados no último Concurso de Ingresso na Magistratura, tem 44% de mulheres, além de candidatos de origem modesta e muitos descendentes de imigrantes.
Este último é o caso de Yin Shin Long, 31, primeiro juiz originário da China da Justiça do Estado de São Paulo. Long trabalhará em Guaratinguetá.
Nascido em Formosa (sudeste asiático), ele emigrou para o Brasil aos 8 anos, com os pais, que trabalhavam com confecção de roupas e mudaram de país em busca de uma vida melhor.
Formado em 1993 na PUC, Long já tinha tentado, sem sucesso, passar no concurso para juiz. "Estudei durante três anos, de seis a oito horas por dia", diz.
Ele não acredita que a cultura chinesa possa influenciar, de alguma forma, sua maneira de julgar. "Os costumes são muito diferentes e tenho um conhecimento muito geral dela. Estive lá uma vez, em 86, mas concluí que quero ficar no Brasil."
Outro filho de imigrantes é Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, 37, descendente de nobres britânicos e futuro juiz em Limeira.
Nascido no Brasil, Wickfield morou até os 25 anos na Inglaterra, onde estudou matemática e física. Quando voltou a São Paulo, decidiu estudar Direito na USP.
Embora seu avô tenha sido juiz no Reino Unido, ele garante que o precedente familiar não o ajudou no concurso. "Conheço pessoas com um passado muito tradicional que não passaram."
O primeiro colocado do concurso, Eduardo Tobias de Aguiar Moeller, 26, é filho de juiz. Como os demais candidatos, ele combate o rumor de que parentes de juízes levam vantagem nesses concursos.
Moeller, que vai para Santo André, disse que teve de se superar, justamente por ser filho de um magistrado. "Se você passa, é porque é filho de juiz. Senão, é porque não tem competência."
Entre os novos juízes, há dois mulatos e nenhum negro.

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