São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Estatísticos polemizam sobre seleção

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O país mais bem-sucedido na história do futebol tem problemas para contar ao mundo detalhes da sua saga -o Brasil não tem estatística oficial sobre sua seleção.
Estudiosos divergem sobre os critérios para o reconhecimento de partidas. A Confederação Brasileira de Futebol só agora começa a cuidar dos números oficiais.
Quantos jogos a seleção já fez? Segundo o paulista Duílio Martino, referência obrigatória em qualquer estudo sobre a seleção brasileira, foram 898.
Para o carioca Ivan Soter, foram 625. Uma diferença de 273 partidas.
A diferença não é fruto da invenção de jogos, mas dos critérios utilizados pelos pesquisadores.
Martino reconhece como jogos da seleção, por exemplo, partidas realizadas por times que representam o país em torneios olímpicos e pan-americanos de futebol.
Soter acredita que qualquer equipe com restrições na sua convocação -etárias, por exemplo- não pode ser considerada como a seleção brasileira.
Um exemplo: em outubro de 1994, a seleção brasileira pré-olímpica -com atletas nascidos a partir de 1º de janeiro de 1973- venceu a sua congênere chilena por 5 a 0.
Duílio Martino contabilizou o resultado como triunfo da seleção. Ivan Soter não considerou o jogo.
A Confederação Brasileira de Futebol adota critérios definidos pelo supervisor da seleção, Américo Faria.
No caso acima, ele se alia a Ivan Soter: jogo de seleção pré-olímpica não entra na estatística da seleção brasileira de futebol.
Em outra polêmica, Faria muda de lado. No último mês de abril, o time do técnico Zagallo venceu o clube espanhol Valencia por 4 a 2.
A CBF computou o jogo contra o Valencia na estatística da seleção principal.
Embora não o reconheça como oficial, Martino o leva em consideração quando define a invencibilidade de Zagallo, 22 jogos.
Ivan Soter não inclui a partida contra o Valencia na sua estatística porque o embate foi contra um clube, e não contra uma seleção nacional.
O que pode parecer caprichos de fanáticos, influi sobre grandes eventos do futebol brasileiro.
Exemplo: neste ano, Zagallo tornou-se o técnico que mais vezes dirigiu a seleção, mas o jogo em que ele bateu o recorde foi diferente para Martino, Soter e a CBF.
A Fifa (entidade dirigente do futebol mundial) define como jogo oficial partida entre as seleções principais de dois países.
É praticamente unânime no Brasil a opinião de que se a seleção brasileira é representada num jogo por um clube, o jogo integra a estatística. "Se o time está vestindo a camisa da seleção, é a seleção", afirma Ivan Soter.
Palmeiras e Atlético-MG já representaram a seleção, usando a camisa brasileira.
Países como França, Itália e Inglaterra têm suas associações nacionais de estatística. Duílio Martino está inscrito nas três.
No Brasil, há um movimento para formar a Associação Brasileira de Pesquisadores de Esporte. "Queremos uniformizar os critérios", afirma Martino.
Enquanto isso não ocorre, cada um faz isoladamente seu trabalho. Martino prepara uma nova edição no Brasil de seu estudo. No Japão, deve publicar livro sobre a história das Copas do Mundo.
Ivan Soter lançou neste ano sua "Enciclopédia da seleção -As seleções brasileiras de futebol- 1914-1994" (Opera Nostra editora, 279 páginas).
O livro, na edição brasileira, está sendo vendido na Inglaterra, como mostra um anúncio publicado na revista "World Soccer".
Américo Faria encomendou um programa de computador para registrar a estatística da seleção.
No futuro, o trabalho deve resultar na publicação dos números oficiais da seleção brasileira, o que não significa o fim da polêmica sobre os critérios a serem adotados, muito pelo contrário.

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