São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Alegria de ser Botafogo nunca foi tão grande

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

A alegria de ser botafoguense foi maior, muito maior, no domingo do que em 1989, quando o time conquistou o Estadual do Rio depois de 21 anos.
A alegria foi maior, em primeiro lugar, porque se tratou de uma conquista inédita. Não apenas era a quarta tentativa (foi o terceiro colocado em 71 e vice em 72 e 92), como o time ainda carregava o fardo de ser o único dos quatro grandes cariocas a jamais ter levantado essa taça.
A alegria também foi maior porque, comparado ao heróico time de Paulinho Criciúma e Maurício, o time de Túlio e Donizete deu muito mais prazer ao torcedor que não é apenas torcedor, mas também amante do bom futebol.
A alegria foi maior, em terceiro lugar, porque, ainda que o título de 89 tenha sido conquistado com uma vitória sobre o Flamengo (uma das maiores alegrias possíveis para um botafoguense), a conquista do último domingo teve o sabor especial de ter sido obtida sobre um time que se considerou campeão antes da hora.
Não foi apenas a torcida santista que comemorou a derrota de 2 a 1 para o Botafogo no Maracanã. A equipe visivelmente segurou o resultado desfavorável nos últimos 15, 20 minutos da partida, mostrando que considerava uma vitória perder uma partida por 2 a 1.
Para desespero de alguns poucos mais sensatos, os jogadores do Santos eram só sorrisos na véspera da última partida. Vágner e Ronaldo chegaram a aparecer na primeira página de um jornal segurando um pôster com a frase "Santos, um time campeão", numa cena que lembrou a célebre foto de Fernando Henrique na cadeira de prefeito na véspera da eleição que perdeu para Jânio Quadros.
A alegria de ser botafoguense foi maior, por fim, porque a decisão do último domingo teve todos os ingredientes de um épico e os jogadores do meu time atuaram como verdadeiros heróis.
Donizete jogou machucado, Túlio fez faltas, Wagner fez milagres, todo mundo deu carrinho e a partida foi até os 49min do segundo tempo. Para quem está acostumado e, até, gosta de sofrer, foi lindo...

Sobre a choradeira santista, é preciso dizer, em primeiro lugar, que é feio.
É feio ficar repetindo obsessivamente "E o gol do Camanducaia?", como se essa frase fosse marchinha de Carnaval. O gol que não houve, senhores, só pareceu legal aos olhos de um computador.
Também é feio ficar dizendo que o placar real da partida foi 1 a 0 para o Santos. Qualquer criança sabe que a história de uma partida se conta em função de jogadas que ocorrem numa sucessão impossível de se repetir. Logo, se isso ou aquilo não tivessem ocorrido, não dá para saber como teria terminado o jogo.
Por fim, é feio ver jornalistas respeitáveis irem à TV ou jornais falarem como se ainda estivessem sentados na arquibancada, xingando o juiz e o adversário.
O Pacaembu não foi o vale dos milagres que os santistas esperavam. Isso acontece. Parem de chorar para não se afogar no vale das lágrimas.

Hoje excepcionalmente deixamos de publicar a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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