São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Dissidente chinês decide recorrer da sentença

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O principal preso político da China, Wei Jingsheng, apelou ontem da sentença de 14 anos a que foi condenado no último dia 13.
Mas como o governo chinês controla o sistema judiciário, há poucas chances de a pena ser revista.
Considerado o "pai" do movimento democrático chinês, Wei Jingsheng, 46, já passou 16 anos de sua vida preso.
Em seu último julgamento, na semana passada, ele foi condenado por "conspiração para tentar derrubar o governo".
O Partido Comunista governa a China desde 1949 e não admite oposição. Nos últimos 16 anos, ele implementa reformas econômicas pró-capitalismo, mas não mexe no sistema político.
O Tribunal Superior Popular de Pequim vai reexaminar as evidências apresentadas contra Wei e dispõe de três opções: manter a sentença, reduzi-la ou ordenar um novo julgamento. Sua decisão pode demorar até 45 dias.
A prisão de Wei provocou uma avalanche de críticas à China. EUA, França, Reino Unido, Alemanha e entidades pró-direitos humanos, como a Anistia Internacional, condenaram o julgamento e a decisão de manter o dissidente preso até 2009.
A China respondeu ao qualificar tais críticas de "interferência em seus assuntos internos". Nesta semana, mais três dissidentes foram presos e um jornalista alemão foi expulso por seus "textos de críticas ao governo".
Esses fatos, mais a dura condenação de Wei, demonstram que o governo comunista está preocupado em manter o que ele chama de "estabilidade", ou seja, seu controle total do sistema político.
O governo teme instabilidade que pode vir com a morte do líder comunista Deng Xiaoping, 91. Ele não tem mais nenhum cargo oficial, mas continua influente, apesar da saúde debilitada.
Rumores sobre sua morte iminente costumam rondar Pequim. Embora Deng não apareça em público há quase dois anos, o governo insiste em que seu "estado de saúde é bom para um homem da sua idade".
Wei Jingsheng foi preso pela primeira vez em 1979 depois de publicar um texto chamando Deng de "ditador".
Foi solto seis meses antes do final da pena de 15 anos, em 1993, quando a China buscava melhorar sua imagem internacional.
Em 1º de abril de 1994, a polícia prendeu Wei novamente. Seu julgamento ocorreu apenas 20 meses depois. Wei Xiaotao, irmão do dissidente, disse na semana passada que iria mostrar que são falsas as provas apresentadas contra o acusado.

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