São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995 |
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Estagbilidade Até hoje os economistas não se entenderam quanto aos verdadeiros mecanismos de dinamização de uma economia. As polêmicas se renovam sem parar. Para uma dessas visões, a dinâmica da economia depende da capacidade das empresas de realizarem investimentos. Entre outras fontes tidas como seguras para financiar as iniciativas está o chamado reinvestimento de lucros. Sob esse aspecto, a economia brasileira está terminando 1995 sob a influência de um processo econômico crítico e que dificulta a retomada do dinamismo nos próximos meses, a compressão das margens de lucro nos mais variados setores. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico ocorrido principalmente nos primeiros meses do ano elevou as massas de lucro e permitirá, para as empresas multinacionais, um nível mais elevado de remessa de lucros para o exterior. Em ambos os casos, portanto, o resultado final pode ser uma redução dos fundos próprios para investimento das empresas. Há muitas possíveis explicações para esses processos, mas uma coisa é clara: os fundos próprios das empresas disponíveis para reinvestimento podem reduzir-se no ano que vem. Se os juros não se reduzirem, a alternativa de buscar financiamento para crescer será igualmente descartada. Surge assim no horizonte a hipótese de um crescimento muito baixo em 1996. Como raramente as coisas são lineares na economia, se a política econômica continuar como está uma depressão de investimentos pode auto-alimentar-se progressivamente. Seria um cenário de estabilização com baixa atividade. Depois da estagflação (estagnação com inflação) os economistas brasileiros, mais uma vez contribuindo para o avanço dessa ciência, criam um novo tipo de modelo: a "estagbilidade" (estagnação com estabilidade). Uma alternativa é suprir essa falta de fundos com poupança externa. É a mais fácil, imediata e disponível desde que os países emergentes latinos voltaram a participar do mercado internacional de capitais. Mas há também a alternativa de voltar ao velho manual de economia nos quais se afirma que, sob juros razoavelmente baixos, aumenta o investimento. Este então gera mais renda, a qual propicia mais poupança e, portanto, mais investimento, num círculo virtuoso de crescimento econômico. Mas nas atuais condições, a economia brasileira aproxima-se perigosamente do círculo vicioso da "estagbilidade". Próximo Texto: Dom Paulo e o aborto Índice |
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